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Pensamentos aleatórios

26 de novembro de 2018

Carga pesada


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Pasquim na íntegra na internet


Nos 50 anos d’O Pasquim, completados em 2019, todas as edições do semanário poderão ser lidas na internet.

O Pasquim foi um semanário alternativo brasileiro, de característica paradoxal, editado entre 26 de junho de 1969 e 11 de novembro de 1991, reconhecido pelo diálogo entre o cenário da contracultura da década de 1960 e por seu papel de oposição ao regime militar.

De uma tiragem inicial de 20 mil exemplares, que a princípio parecia exagerada, o semanário (que sempre se definia como um hebdomadário) atingiu a marca de mais de 200 mil em seu auge, em meados dos anos 1970, se tornando um dos maiores fenômenos do mercado editorial brasileiro.

A princípio uma publicação comportamental (falava sobre sexo, drogas, feminismo e divórcio, entre outros) O Pasquim foi se tornando mais politizado à medida que aumentava a repressão da ditadura, principalmente após a promulgação do repressivo ato AI-5. O Pasquim passou então a ser porta-voz da indignação social brasileira

A Biblioteca Nacional está prestes a terminar a digitalização dos 1.072 números do tabloide que atravessou a ditadura no deboche.

O acervo ficará em uma página que terá, ainda, uma coleção de memórias dos colaboradores do jornal.

O portal será lançado com uma exposição sobre o Pasquim, a ser montada no Rio de Janeiro e em São Paulo.

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16 de novembro de 2018

Mais Médicos: erros e acertos no que se fala sobre o programa

Desde quarta-feira o assunto que domina o noticiário é o anúncio feito pelo governo cubano de que deixará de participar do acordo de cooperação do Programa Mais Médicos, vigente desde agosto de 2013. 

Em nota, Cuba diz que a decisão foi motivada por falas do presidente eleito Jair Bolsonaro, que desde a campanha criticava pontos da iniciativa. 

Bolsonaro, por sua vez, afirma que o país não aceitou as condições impostas pelo novo governo para que o programa continuasse no próximo ano. A Agência Lupa checou as frases ditas sobre o programa desde então esclarecendo o que é verdade, mentira ou exagero, e que divulgo a seguir:


Não existe no acordo entre os governos brasileiro e cubano nenhum impedimento para que as médicas cubanas tragam seus filhos para o Brasil caso venham a participar do Mais Médicos. A lei que institui e regulamenta o programa indica que “O Ministério das Relações Exteriores poderá conceder o visto temporário (…) aos dependentes legais do médico intercambista estrangeiro, incluindo companheiro ou companheira, pelo prazo de validade do visto do titular”.


Segundo a Sala de Apoio à Gestão Estratégica (Sage) do Ministério da Saúde, 269 médicos cubanos estão atuando atualmente em aldeias indígenas. Eles representam 87% do total de médicos que atuam nessas regiões.


Apenas 374 municípios do país não tinham nenhum médico em julho de 2013, mês imediatamente anterior ao início do programa Mais Médicos. Desses, 148 são atendidos por profissionais cubanos atualmente.


O número de municípios atendidos por médicos cubanos do programa é próximo ao citado pela deputada: 2.849. As informações são de 12 de novembro deste ano.


A Lei 12.871/2013, que institui e regula o Mais Médicos, exige que todos os médicos formados no exterior – incluindo os cubanos – apresentem “diploma expedido por instituição de educação superior estrangeira” e “habilitação para o exercício da Medicina no país de sua formação”. Há diferenças entre as exigências para estrangeiros – ou brasileiros formados no exterior – participantes do programa e médicos formados no exterior que vivem no Brasil, mas não fazem parte do Mais Médicos. Por exemplo, os profissionais contratados pelo programa são dispensados de fazer o Revalida, exame de revalidação do diploma, por até três anos. Entretanto, ao contrário do que o presidente eleito diz, é necessário que os médicos comprovem sua formação.

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Traduzindo a saída dos cubanos


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Montando um governo


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15 de novembro de 2018

Stan Lee chegando ao Céu...


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Como é, de fato, a participação de Cuba no Programa Mais Médicos?



Cuba faz cooperação com 66 países em todo o globo, inclusive europeus. Sabe como isso começou?

Com a brigada Henry Reeve, criada em 2005, como forma de ajuda humanitária pra atender as vítimas do Furacão Katrina nos EUA.

Fidel chamou centenas de médicos e pediu que se organizasse a brigada. EUA negaram a ajuda.

A brigada permaneceu mobilizada pois em pouco tempo haveria a crise em Angola e terremoto no Paquistão.

Na maioria dos países que faz parceria, Cuba envia médicos e medicamentos de graça, sem cobrar dos países.

Isso aconteceu em Angola, no Nepal, Haiti, Congo, e tantos outros países pobres do mundo.

Quem arcava com os custos? O próprio governo cubano.

E como o governo cubano fazia, já que é vítima de um bloqueio econômico há décadas, uma ilha pequena do Caribe que não consegue nem produzir a própria energia, pelas características de seu território?

Alguns países começaram a oferecer trocas pela Força de Médicos. A Venezuela ofereceu petróleo.

Alguns países europeus começaram a pagar mesmo diretamente pro governo Cubano. E essa parceria virou uma fonte de renda pra ilha, com impacto em suas contas públicas, dado o volume de médicos atuando no mundo todo.

E como funciona o pagamento?

Cuba abre edital via uma empresa estatal para contratar os médicos. Eles podem se oferecer ou não.

As condições salariais e os países são conhecidos previamente por todos antes de assinarem contrato. Contrato, conhecem? Pois é.

A maior parte do “salário” pago fica com o governo cubano? Sim e não.

Sim porque se você pegar o total de recurso destinado ao programa e dividir pelo número de médicos vai ser menor. Mas não porque não são os governos contratantes os responsáveis pelo salário dos cubanos.

Quem é responsável pelo salário dos cubanos é a estatal com a qual eles assinaram contrato! Simples!

Ela é responsável por lesão corporal, por invalidez , por seguro, por assistência a família em caso de morte, etc .

Cubanos morreram aqui, sabiam? E sabe o que fez o governo brasileiro? Nada. Pois é.

Quem cuida das familias e repassa dinheiro para famílias é a estatal.

Além disso, a “diferença salarial” não vai pra financiar outra coisa que não a Saúde e Educação de todo povo cubano.

Detalhe, eles tem isso DE QUALIDADE e de GRAÇA pra todos lá ,viu?

Ou seja, o “salário” dos médicos fora de Cuba (quando estão em países que pagam, que não são a maioria) sustenta os direitos sociais de todos os moradores da ilha.

É uma fonte de renda pro povo. Impacta o PIB. Como vender nióbio a preço de banana pra canadense, saca?

Sabe quantos médicos Cubanos saíram do programa revoltados com o que é feito com o salário? Um total de …. 1!

Isso mesmo. Uma cubana que foi comprada e sustentada pela AMB [Associação Médica Brasileira] numa certa época pra criar uma campanha vergonhosa contra o mais médicos.

Houve algumas deserções, como sempre há, já que tem médicos cubanos que acham que vão enriquecer de medicina nos EUA. Claro que tem.

Em todo canto do mundo tem gente que não se importa em pensar apenas no próprio umbigo. Mas foram uma minoria irrisória.

Revalidação de diplomas: Essa é uma piada.

Cuba manda médicos pra 66 países, sabe o único que teve gente cobrando isso? Pois é, o Brasil.

Ainda tem o disparate de dizer que eles não são médicos, quando tem norte-americano pegando lancha e indo pra Cuba se tratar.

Mesmo assim, por conta dessa pressão, os Cubanos foram avaliados quando chegaram aqui, com a aprovação da lei.

Avaliados pela fluência no Português e questões de Medicina.

Foram avaliados por professores e preceptores de medicina brasileiros, a maioria de universidades federais

É claro que teve gente reprovada. É claro que vieram no meio dos 14 mil médicos, tipos ruins, medianos, bons e excelentes.

Mas você acha que entre 14 mil brasileiros viriam apenas médicos bons? Anham…

*Sou Chefe de um pronto socorro do SUS onde só tem brasileiro, e vejo isso todo dia …

Impacto do término do programa: 700 municípios brasileiros não tinham uma alma de lençol branco nem pra confundir com médicos.

Os números do Mais Médicos são acachapantes: 63 milhões de pessoas cobertas. 4 mil municípios

Hoje em mais de 1.500 municípios só tem cubano.

Lembram do escândalo das digitais de ponto, em que médicos falsificavam a entrada nos serviços de Saúde?

Muitos pequenos municípios no interior vão voltar a depender deste tipo de colega, infelizmente.

Parabéns aos envolvidos.


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13 de novembro de 2018

Confira cronograma de pagamentos de salários dos servidores do governo de Goiás


O Governo de Goiás divulgou o cronograma para o pagamento da folha salarial de outubro. De acordo com a nota divulgada, os salários até R$ 3,5 líquidos foram pagos no último dia 31. Na semana passada, foram pagos os salários acima deste patamar, dos servidores da Secretaria de Educação, da Assembleia Legislativa, do Tribunal de Justiça, dos Tribunais de Contas do Estado e dos Municípios e do Ministério Público. 

Segundo a Nota os salários dos servidores das Secretarias Estaduais da Saúde e da Fazenda foram pagos ontem (12/11). Hoje recebem servidores da Policia Militar, do Gabinete Militar, da Goiasprev, Ipasgo, Detran, Juceg e Funcam. 

Até o dia 22, recebem os servidores do Corpo de Bombeiros, da Secretaria de Segurança Pública, da Segplan, UEG, Polícia Civil, Agrodefesa e da Secretaria Cidadã.

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Adeus, Mestre...


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8 de novembro de 2018

Bolsonaro não teve cheque em branco do povo


Por Guilherme Boulos, publicado originalmente na Folha de São Paulo.

Jair Bolsonaro teve a maioria dos votos e foi eleito presidente da República, o que não significa um cheque em branco do povo brasileiro a um pensamento único sem espaço para a oposição de ideias. O sufrágio se dá nas urnas, mas a democracia é prática cotidiana e pressupõe respeito a quem pensa diferente e, sobretudo, às liberdades constitucionais.

As declarações do presidente eleito, no entanto, são preocupantes: denúncias jornalísticas tornam-se “fake news”, movimentos sociais viram “organizações terroristas”, e manifestações populares são tachadas como “ataques à democracia”.

A uma semana das eleições, o ainda candidato do PSL falou a seus seguidores que os “marginais vermelhos serão banidos da nossa pátria”. Em entrevista ao Jornal Nacional, já depois de eleito, tentou moderar o tom, mas reafirmou a ideia, apontando as cúpulas do PT e do PSOL como alvos de sua perseguição.

Citou-me nominalmente por ter, segundo ele, “ameaçado invadir” sua casa. Não é verdade. Valeu-se de uma ironia que fiz em uma manifestação e que todos que lá estavam ou assistiram assim notaram. Bolsonaro sabe disso, mas preferiu usar o caso para legitimar seu discurso de intolerância.

Eles têm pressa. Esses 45 dias de transição já começaram a ser utilizados para aprovação de uma agenda de retrocessos em direitos sociais e liberdades democráticas.

Em menos de uma semana, anunciaram-se o esforço para aprovar a toque de caixa uma reforma da Previdência rejeitada por 71% dos brasileiros (segundo o Datafolha) e a tentativa apressada de votar em comissões do Senado e da Câmara os projetos que criminalizam movimentos sociais como “terroristas” e o chamado Escola Sem Partido, instituindo uma patrulha de censura aos professores em escolas e universidades.

Os ataques a movimentos sociais têm tomado como alvos principais o MTST e o MST. Parecem desconhecer o fato de que estes não existem por vontades de lideranças, mas pela histórica negação dos direitos à moradia e à terra. Temos uma das estruturas agrárias mais concentradas do mundo e mais de 6 milhões de famílias sem acesso a moradia digna.

Além disso, é uma invenção absurda que o MTST “invade a casa das pessoas”. Há, sim, uma enorme quantidade de imóveis abandonados, grilados ou com dívidas impagáveis, que descumprem tanto a Constituição quanto o Estatuto das Cidades e que só não foram desapropriados para habitação social porque a lei frequentemente falha quando se trata de enfrentar grandes interesses econômicos.

São esses imóveis que os movimentos de moradia ocupam. Tratar essas organizações como “terrorismo” é um atentado à democracia.

Lutar por direitos sociais e fazer oposição são regras básicas do jogo democrático e não “ação de marginais”. Tentar calar opiniões e oposições, impondo uma agenda de medo até mesmo sobre as liberdades de imprensa e manifestação, não é um caminho aceitável. Por isso, mais do que nunca, temos o desafio de construir uma Frente Ampla pela Democracia, com a participação de partidos, movimentos sociais, lideranças políticas, juristas e todos aqueles que tenham preocupação com os caminhos do nosso país.

Cabe aos movimentos sociais seguir lutando por direitos. Cabe à imprensa manter um trabalho independente e crítico, sem censuras ou ameaças. E, finalmente, cabe aos demais Poderes da República – Congresso e, em especial, o Supremo Tribunal Federal – saber frear excessos do Executivo, preservando o respeito à diversidade, a democracia e condenando qualquer tipo de perseguição política.

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Só fica o essencial


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6 de novembro de 2018

A recompensa?


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Ministério Toy Story


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Marcos Pontes, o astronauta que vendia travesseiros e virou ministro*


Vindo da parte de um futuro presidente que, pelo andar da carruagem, deverá mandar o Brasil para o espaço com sua agenda ultraliberal na economia, conservadora nos costumes e troglodita nas áreas de segurança e direitos humanos, a indicação do primeiro (e único, graças ao bom Deus) astronauta brasileiro para comandar o ministério de Ciência e Tecnologia não deve causar nenhum espanto.

Afinal, um ministério que tem como titular o ex-prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, um perfeito ignorante no campo do conhecimento tecnológico, poderia, em princípio, muito bem acolher alguém como o tenente coronel Márcio Pontes, formado em engenharia pelo respeitável Instituto Tecnológico da Aeronáutica, em cujo currículo constam cursos de pós graduação e aperfeiçoamento no exterior.

Ao ser questionado pela rádio Jovem Pan se sua qualificação de astronauta seria credencial suficiente para assumir o ministério, Pontes retrucou: “Não sou só isso. Sou administrador, engenheiro, bacharel em ciência aeronáutica, trabalho com a Nasa há 20 anos. Sei como conduzir isso de forma a ter resultados na riqueza do país ou na melhora da qualidade de vida.”

No entanto, mais do que sua eventual capacitação, o preocupante, no caso, é a trajetória de Marcos Pontes. Durante oito anos, entre 1998 e 2006, o militar, selecionado em concurso pela Agência Espacial Brasileira (AEB), recebeu treinamento no Johnson Space Center, em Houston, nos Estados Unidos, como representante do Brasil na Nasa.

Em 2005, foi escalado pela AEB para uma missão de 10 dias no espaço com o cosmonautas Jeffrey Williams (americano) e Pavel Vinogredov ( russo).

O trio decolou do Centro de Lançamento de Baikonur, no Cazaquistão, no dia 29 de março de 2006, a bordo da Soyuz TMA-8 sobre um foguete Soyuz com 200 toneladas de combustível rumo à Estação Espacial Internacional (ISS),Com a duração de 10 dias, a Missão Centenário, como foi chamada, foi concluída no dia 8 de abril.

Datam daí as controvérsias em torno do comportamento do tenente coronel. Aparentemente, o sucesso com a missão e a perspectivas de faturar com a experiência subiram-lhe à cabeça.

Recebido como herói pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no dia 20 de abril, Pontes anunciou, menos de um mês depois, em maio, sua passagem para a reserva remunerada da Aeronáutica, aos 43 anos de idade.

A decisão causou irritação no Ministério da Ciência e Tecnologia, justamente a pasta que Pontes ocupará a partir de janeiro de 2019, e na AEB, contrariados por não terem sido informados previamente.

“Minha surpresa foi ficar sabendo da passagem para a reserva pelo Diário Oficial”, disse o presidente da AEB, Sérgio Gaudenzi, ao jornal Folha de S.Paulo.

A estranheza mais do que se justificava. A AEB esperava que o astronauta fosse virar uma espécie de garoto-propaganda do programa espacial, treinando novos astronautas e funcionando também como uma espécie de “adido” da Agência junto à Nasa.

A Força Aérea Brasileira (FAB) tampouco escondeu sua frustração, pois apostava na popularidade do astronauta para estimular novas adesões às suas fileiras.

A bronca aumentou quando foi revelada a dinheirama gasta com Pontes nos oito anos de sua vinculação ao Programa Espacial. Pelas contas da AEB, o investimento feito pelo governo brasileiro na formação, treinamento e carreira do astronauta nos Estados Unidos, ficou em torno US$ 30 milhões, o equivalente a R$ 100 milhões em dinheiro de hoje – só a “passagem” de Pontes para o vôo da Soyuz rumo à Estação Espacial ficou em US$ 10 milhões, segundo Gaudenzi.

No entanto, Gaudenzi, mesmo desapontado, viu um ponto positivo na experiência: a visibilidade internacional do programa espacial brasileiro, o que abriria caminho para parcerias com a Rússia, Ucrânia, Estados Unidos e União Europeia.

A reação no Congresso foi bem menos condescendente na avaliação do comportamento de Pontes. “Foi um dinheiro e tanto. E agora, quando ele poderia partilhar esse aprendizado com colegas, pede o afastamento”, observou o deputado Walter Pinheiro (PT-BA), integrante da Comissão de Ciência e Tecnologia da Câmara.

Seu colega Alberto Goldman (PSDB-SP), outro membro da Comissão, não escondeu sua indignação. “Muitos imaginaram que o astronauta permaneceria na carreira por patriotismo. Mas, no caso, o que mais importou foram os interesses pessoais”, afirmou Goldman, que pedia a criação de regras para garantir a permanência de futuros astronautas no serviço público.

Livre, leve e solto para alçar novos voos, Marcos Pontes não perdeu tempo para aproveitar o prestígio angariado em suas peripécias espaciais para reforçar seu pé de meia ( ele se justifica, por ter saído com apenas um terço dos vencimentos da ativa ao passar para a reserva), investindo em áreas como educação, coaching, palestras, consultoria técnica, turismo, gerenciamento de projetos, entre outras.

Uma de suas primeiras providências foi criar uma empresa, a Marcos Pontes Engenharia e Eventos. Por meio dela, o homem que custou R$ 100 milhões em sua encarnação de astronauta à sociedade brasileira, passou a ministrar palestras de autoajuda para empresas, lançou três livros, além de criar uma fundação destinada a educação para crianças.

Embora tenha sido nomeado mais tarde embaixador da Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial, desde que largou a farda, Pontes se notabilizou mesmo foi em seus negócios privados.

Um deles, foi a atividade de guia turístico para os visitantes do Kennedy Space Center (KSC), em Cabo Canaveral, na Flórida, o mítico centro de lançamento de foguetes da Nasa na corrida espacial disputada com a extinta União Soviética.

No KSC, localizado a apenas 40 minutos de Orlando, Pontes era um dos cicerones do Fly with an Astronaut, programa em que um astronauta guia os visitantes por alguns dos lugares mais excitantes do lugar. Trata-se de um passeio destinado a famílias de turistas brasileiros em que, na companhia de Pontes, mediante a módica quantia de US$ 199 para os adultos e US$ 174 para as crianças, era possível conhecer o ônibus espacial Atlantis verdadeiro, lançado em 1985, torres de lançamento de foguetes, além de almoçar em sua companhia, com direito, ainda, a fotografias autografadas com o astronauta aposentado.

Uma outra vertente dessa modalidade de exploração turística é feita ela Agência Marcos Pontes, que oferece pacotes para os interessados em conhecer a Nasa de perto, com uma equipe de guias especializados.

Como explica o site da agência, trata-se de “uma empresa especializada em pacotes turísticos exclusivos, desenvolvidos para pessoas muito especiais: as que vivem intensamente, explorando novas possibilidades e aventuras, realizando o sonho de conhecer lugares extraordinários e experimentando sensações que apenas alguns seres humanos vivenciaram, como voar em um jato de caça, mergulhar a bordo de um submarino ao encontro do Titanic, flutuar na gravidade zero e ver a Terra do espaço.

Empresário de múltiplos interesses, ele também alugou sua popularidade à publicidade. Há alguns anos, se transformou no garoto propaganda de um produto conhecido como o travesseiro da Nasa, apresentado como “o genuíno travesseiro do astronauta brasileiro Marcos Pontes”, fabricado pela empresa catarinense Marcbrayn, de Joinville.

Na verdade, como observou a revista Superinteressante, o travesseiro é tão “da Nasa” quanto um vestibulando reprovado na Fuvest é “da USP”. Sua espuma viscoelástica foi desenvolvida para equipar foguetes, mas não embarcou neles. Tudo bem: ele é oficialmente um Nasa spin-off, termo para avanços que chegam ao mercado graças a uma forcinha da agência espacial americana.

Segundo a revista, tudo começou em 1966, quando a Nasa encomendou um material de revestimento para as naves que absorvesse choques. Surgiu aí a espuma viscoelástica, que se adaptava ao formato do corpo e voltava ao volume original quando a pressão era removida. Mas havia um detalhe: o cheiro foi considerado muito forte e, por isso, a espuma foi descartada pela agência americana. Só mais tarde, nos anos 1980, quando a tecnologia ficou mais barata e menos cheirosa, a tal viscoelástica passou a se aproveitada na produção de travesseiros e colchões.

Em resumo: nunca existiu o tal travesseiro da Nasa.

A veia empreendedora de Pontes, que teria começado a se manifestar antes mesmo de sua passagem para a reserva, não passou desapercebida pelas autoridades. Ele foi alvo, por exemplo, de uma investigação do Ministério Público Militar, sob a suspeita de ter faturado com a venda de produtos e palestras enquanto era oficial da ativa da Aeronáutica. Por uma dessas coincidências do destino, o recurso do MPM para seguir com a investigação caducou em agosto deste ano no STF.

Antes de aceitar o convite de Bolsonaro para assumir o ministério de Ciência e Tecnologia, Marcos Pontes tentou uma incursão pela política. Em 2014, candidatou-se a deputado federal por São Paulo pela legenda do Partido Socialista Brasileiro (PSB), que segundo o governador eleito de São Paulo, João Dória Júnior, não passa de linha auxiliar do Partido dos Trabalhadores. A tentativa foi mal-sucedida. Com 43 mil votos, Pontes não conseguiu se eleger.

Nas eleições deste ano, porém, Pontes se deu bem. Numa espécie de salto tríplice carpado, farejando com precisão os ventos que sopravam em favor de Bolsonaro, logrou candidatar-se como segundo suplente ao Senado na chapa do PSL, encabeçada pelo Major Olímpio, que ficou com uma das duas vagas paulistas.

A adesão ao bolsonarismo foi retribuída com o convite para assumir o ministério de Ciência e Tecnologia. Cristão novo, Pontes não hesitou em adotar o linguajar agressivo do capitão-presidente. Na quarta feira passada, tão logo soube da oficialização de sua indicação, o astronauta aposentado, que participava de um evento com estudantes em Manaus, mandou brasa, como se dizia antigamente.

Sem que ninguém lhe cobrasse, afirmou que combaterá “inimigos internos e externos com o mesmo sacrifício de vida”, rememorando o juramento prestado ao formar-se piloto de caça na Academia da Força Aérea, na década de 1980. Juramento esse, diga-se, que permaneceu adormecido desde os tempos em que abandonou precocemente a carreira militar em busca de bons negócios na iniciativa privada. “Vou continuar a fazer com o mesmo nível de dedicação.”

Extraterrestres, doravante todo cuidado é pouco.

*Por Miguel Enriquez, no Diário do Centro do Mundo.

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