Encurralado por denúncias cabeludas que envolviam segredos de alcova, notas fiscais requentadas no leque das tramoias e múltiplos atos de corrupção escancarada, o Senador Renan Calheiros utilizou as chaminés da pouca vergonha e saiu do cargo com a fuligem dos que desonram a função pública. Mal o assunto ficou morno nos veículos de comunicação e o homem retorna ao mesmo ofício. Aprovado pelos cupinchas de sempre e com aval dos deuses do planalto, o depravado será o representante máximo do legislativo brasileiro.
O adágio popular afirma que cada povo tem o representante que merece. É verdade. Na prática, o brasileiro adora corrupto. Notem que os símbolos máximos da bandalheira se perpetuam no poder com absoluta tranquilidade. Eles se deliciam com a flexível alma do eleitor que logo esquece suas bandalheiras e os reconduzem ao cargo, se possível tirando proveito de mesquinhos interesses umbilicais.
Essa orgia, esse nojo que joga para escanteios valores fundamentais, não é uma prerrogativa apenas do segmento político. É uma espécie de lodoso esporte nacional. Nos sindicatos impera um grupelho de falsários que enriquece e se lambuza com o dinheiro dos participantes. Nas entidades de classe perpetuam facções que se eternizam nas generosas ceias do venha a nós.
Até nos condomínios se agarram síndicos de moral duvidosa e poucos são os segmentos de representação coletiva que não são controlados pela turma da bandalheira. É um fenômeno a ser estudado. Não se trata de falta de informação. É uma extraordinária condescendência com a podridão.
É algo tão profundo que se alastra em todas as camadas sem exceção. Em muitas nações, que enfrentam equações semelhantes, existem trincheiras capazes de reagir catalisando o clamor pela ética. Uma delas é a classe estudantil que teoricamente não teria o rabo preso com os gatunos do poder. Só que a União Nacional dos Estudantes (UNE) versão tupiniquim, se besuntou com verbas públicas e mia como um gatinho dengoso frente às malandrices patenteadas nos calabouços do poder.
Os poucos que se erguem cobrando dignidade e coerências se agitam como isolados Don Quixotes a pugnar moinhos de vento. Somos o País em que a caravana ladra e os cães passam. E tudo por decisão da própria sociedade. Que não só adora corrupto como se deleita em participar dela. Gostemos ou não, é uma realidade.
Rosenwal Ferreira: Jornalista e Publicitário
Twitter: @rosenwalF
facebook/jornalistarosenwal