E a chuva de sexta, hein?! Nunca antes na história
de Catalão uma precipitação foi tão comentada, registrada, filmada e
compartilhada como essa de agora. E com razão, é claro, pois choveu na
sexta-feira o equivalente a todo o mês de fevereiro (101,55mm, segundo dados da
Estação Meteorológica de Catalão). Não tinha como não ser o assunto do fim de
semana e o tema principal, daqui até o final do ano, para os ambientalistas
baterem na expansão urbana desenfreada de nossa cidade, da necessidade de um
plano de desenvolvimento sustentável e da importância dos parques municipais. Todo
o debate que vier agora será, sem dúvida, muito importante, no entanto é
preciso esclarecer por que a chuva de sexta alagou completamente o centro da
cidade, justamente para tentar responder a questão mais importante: é possível
evitar que ocorra de novo?
Antes é preciso lembrar que essa inundação, embora de proporções maiores do que qualquer outra antes registrada, não é a primeira. Abaixo tem um vídeo de 2011 onde ficou registrado o nível das águas do ribeirão Pirapitinga, próximo ao Terminal de Coletivos, quase transbordando. Uma inundação acontece quando o leito natural de um rio ou córrego recebe uma quantidade de água, proveniente da chuva, maior do que sua capacidade de comportá-la e aí ele transborda. Isso é um processo natural e todo rio necessita de uma área chamada de “área de inundação” para onde a água escoará. E esse é um dos grandes problemas do centro de Catalão, em especial da Avenida Raulina: essa área de inundação não foi respeitada. O ribeirão Pirapitinga foi canalizado, afinado e coberto em grande parte de seu percurso, aí quando ocorre uma precipitação maior do que a média, como foi sexta-feira, o alagamento é a consequência natural.
Outra questão importante diz respeito ao processo de urbanização de Catalão. Embora o atual Plano Diretor tenha previsto medidas para diminuir o impacto ambiental da abertura de novos loteamentos resguardando a reserva verde em cada uma das novas áreas, pouco foi previsto em termos de pensar o impacto das chuvas. A maioria dos novos loteamentos foi aprovada cobrando-se (apenas) asfalto, meio-fio, rede elétrica e de água. É claro que é um avanço, principalmente se lembrarmos que os loteamentos eram abertos sem qualquer infraestrutura e as pessoas ficavam anos esperando o Poder público ter condições de agir, mas essas exigências visam garantir mais a valorização dos terrenos e livrar a Prefeitura de responsabilidades futuras do que a preocupação ambiental. E se analisarmos friamente, o processo de expansão urbana de Catalão ocorreu quase sem nenhum planejamento, pois na aprovação dos novos loteamentos não foram pensados a declividade das ruas (para onde a água da chuva vai escorrer) e a construção de galerias pluviais (meio utilizado para captar e transportar a água da chuva). Se esses dois procedimentos fossem utilizados, é certo que enchentes e alagamentos não apareceriam nos noticiários e nem causariam tantos problemas sociais e econômicos.
E o relevo da planta urbana canaliza ainda mais os problemas, pois a chuva que cai no alto do Ipanema, São João, Nossa Senhora de Fátima, Mãe de Deus, Vila Liberdade e demais bairros mais altos escorre toda, e em velocidade, para o centro da cidade, pois o asfalto não permite a absorção e não existem galerias pluviais suficientes no caminho (se existir alguma que ainda funcione), aí ocorrem as cenas que vimos. Tudo isso resultado de anos (mais de 50, para não jogar a culpa nos últimos 12) de expansão urbana sem o adequado cuidado ambiental.
E a chuva que caiu sexta não é uma coisa totalmente inédita. Embora a repercussão tenha sido grande (mais por causa da internet do que pelos estragos em si) o fato é que quando a pavimentação era de bloquete poderia chover o mesmo tanto que o impacto seria menos sentido. Todos os calçamentos do tipo (paralelepípedo e bloquete) são considerados mais ecologicamente corretos justamente por permitirem a infiltração da água da chuva, o que diminui os riscos de enchentes. É claro que não é só isso. Antigamente tínhamos bueiros e bocas-de-lobo em toda a Avenida José Marcelino, fechadas justamente porque constantemente entupiam com o excesso de lixo, até não serem mais construídas, assim como as galerias pluviais. Aí já é uma questão de Educação e preocupação com o meio ambiente, coisa para ser construída em muitos anos e não de uma hora pra outra.
Enchentes, sejam frequentes ou esporádicas, são um sério problema para a sociedade, pois, além dos enormes prejuízos econômicos, colocam em risco a vida das pessoas, que podem contrair doenças, como a leptospirose, por exemplo. No entanto, aparentemente poucas pessoas ligadas ao Poder Público Municipal se preocuparam com o tema nos últimos anos e tudo indica que vai continuar assim, já que até agora o silêncio foi a resposta aos questionamentos da população, tanto que no dia seguinte, em Santo Antônio do Rio Verde, o assunto sequer foi mencionado durante o “Recupera Santo Antônio”.
Não existe fórmula mágica para evitar os alagamentos, mas em Catalão é preciso encarar o principal desafio: encontrar alternativas para evitar a impermeabilização do solo. É certo que há anos a cidade fez a opção pelo asfalto, mas é preciso rever isso, sem receio de pensar em retrocesso. Não dá para modificar o relevo, não dá para controlar a precipitação da chuva e a expensão urbana vai continuar ocorrendo, mas é possível aumentar as áreas verdes, melhorar a coleta de lixo e investir em conscientização ambiental, assim como inserir no Plano Diretor mais preocupação ecológica para a expansão da cidade, do contrário só nos resta torcer por uma PARCERIA com São Pedro, para a chuva cair fininha daqui pra frente.
Esse vídeo do alagamento da rua da estrada de ferro, com os carros por baixo dágua impressiona mesmo...
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