Por Ricardo Melo, da Folha de São Paulo
"Os equívocos em relação à Petrobras foram muitos. E taí. Hoje a empresa frequenta mais as páginas policiais [...] do que as páginas de economia". As palavras são do candidato tucano Aécio Neves em sabatina realizada na quarta (16), ao criticar o governo Dilma Rousseff.
Nada
como um dia depois do outro. Graças ao repórter Lucas Ferraz, ficamos
sabendo neste domingo (20) que, antes de deixar o cargo de governador,
nosso impoluto Aécio presenteou a própria família com um aeroporto no
interior de Minas Gerais, na cidade de Cláudio. Deu de presente é modo
de dizer. A conta, R$ 14 milhões, foi espetada novamente no lombo do
contribuinte. Tudo dinheiro público.
O Brasil conhece à exaustão
obras e estradas construídas perto de propriedades de políticos, sempre
sob o argumento de pretensos interesses rodoviários e sociais. Cinismo à
parte, para não dar muito na vista, ao menos se permite a circulação de
anônimos pelas rodovias.
No caso do aeroporto de Cláudio
dispensaram-se maiores escrúpulos. "Choque de gestão" na veia. A pista é
de uso praticamente privado da família Neves e seus apaniguados. Um
diálogo esclarecedor: perguntado pelo repórter se alguém poderia usar o
aeroporto, o chefe de gabinete da prefeitura local foi direto. "O
aeroporto é do Estado, mas fica no terreno dele. É Múcio que tem a
chave." O dele e o Múcio citados referem-se a Múcio Tolentino, tio-avô
de Aécio e ex-prefeito do município. Pela reportagem, descobre-se ainda
que Aécio é figura frequente no lugar --a cidade abriga um de seus
refúgios favoritos.
Pego no escândalo, o candidato embaraçou-se
todo. Alega que a área do aeródromo particular foi desapropriada. O que,
vamos e venhamos, já é discutível: no mínimo não pega bem um governador
indenizar sua própria família para uma obra de utilidade social mais do
que duvidosa.
Mas a coisa só piora: o processo de desapropriação
está em litígio, ou seja, a propriedade permanece sob controle do clã
Neves & Cia. Talvez uma ou outra aeronave de conhecidos, ou algum
Perrella da vida, tenha acesso à pista. Fora isso, ignoram-se benefícios
econômicos gerados pela empreitada ao povo mineiro. Questionado pela
reportagem sobre quantas vezes esteve no estacionamento aéreo familiar e
o motivo pelo qual uma obra custeada com dinheiro público tem uso
privado, Aécio não respondeu. Ou melhor: o silêncio equivale a uma
resposta. E a campanha mal começou.
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