Era uma vez uma bela e progressista cidade do interior de Goiás, palco de uma disputadíssima eleição onde concorreram os dois principais líderes políticos do local. Ao final da disputa um dos candidatos teve mais votos, ou seja, foi o eleito, mas... surpresa! Ele não foi declarado o vencedor do pleito, pois a Justiça Eleitoral não havia registrado sua candidatura. Declarado vencedor o segundo colocado não comemorou, já que a maioria da população não quis nele votar, preferiu votar no outro, mesmo não tendo registro. Assim, o candidato que teve mais votos comemorou e fez uma grande festa, com carreata, foguetes e tudo o mais que teria direito. Dizia para os correligionários que sua vitória nas urnas sacramentava a bela campanha que tinham feito e que o registro de sua candidatura e posterior validação dos votos recebidos era fato líquido e certo, não demoraria para a instância superior da Justiça Eleitoral decidir.
E a vida continuou normalmente nessa cidade após esse resultado. O candidato que recebeu mais votos seguia comemorando, montando sua equipe, seus parceiros políticos foram articulando alianças para garantir votações tranquilas na Câmara Municipal. E o candidato que recebeu menos votos, mas aos olhos da Justiça considerado vencedor, aceitou o resultado das urnas e se recolheu com os aliados mais próximos para análise dos erros e dos acertos que levaram a esse resultado. O atual prefeito, parceiro do candidato que recebeu menos votos, continuou sua gestão. Preocupado com as contas municipais começou a cortar gastos e a dispensar pessoal. Como iria entregar a prefeitura para um adversário não se preocupou em montar uma comissão de transição: Ora! Problema de quem assumir, eles aprenderam sozinhos, que os que entrarem agora também aprendam.
E assim a vida continuou... Mas eis que a Justiça demora a julgar o recurso do candidato mais votado e tanto ele quanto os aliados que comemoraram efusivamente começam a ficar preocupados. O candidato que recebeu menos votos, mas considerado pela Justiça o vencedor, começa a aceitar o fato de ser prefeito, mesmo tendo sido menos votado: azar da população que acreditou na lorota do outro. Já o prefeito atual, querendo saber apenas de terminar sem problemas o seu mandato, continua a cortar gastos e pessoal, o que preocupava a população, pois o Natal e o final do ano de aproximavam e as dúvidas aumentavam: Haverá iluminação de Natal? O restaurante vai fechar? E a creche, em janeiro vai funcionar? O plano de saúde, vou poder usar? E meu emprego na prefeitura, vai continuar? E o time da cidade, vai o campeonato disputar?
Essa cidade é Catalão, onde 50 dias após as eleições as dúvidas ainda persistem: Quem será nosso prefeito? Teremos novas eleições? O presidente da Câmara será nomeado prefeito? E quem será o presidente da Câmara? E tudo isso por causa de uma legislação cheia de brechas, que permite que candidatos concorram sem registro de candidatura, deixando toda uma população refém da Justiça, onde a decisão de sete pessoas vai definir o destino de 100 mil habitantes.
A vida continua, é claro, a maioria da população não depende diretamente da prefeitura ou de qualquer situação política, mas sem definição de quem será o próximo prefeito não se sabe sequer se as ruas terão coleta de lixo em janeiro ou se os postos de saúde atenderão, isso sem contar as creches e o combate a dengue. Saúde, educação, saneamento, trânsito e tantas outras políticas de atuação pública, tudo ainda indefinido no lugar onde moramos, sempre a espera da próxima semana, que desde o dia 07 de outubro teima em não chegar.
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