É o assunto do momento (tirando a morte do Chavez, do Chorão e a condenação do Bruno), a eleição do deputado evangélico Marcos Feliciano, do PSC-SP, para a presidência da Comissão de Direitos Humanos da Câmara Federal. O assunto vem causando muita polêmica e revolta. Houve até um abaixo-assinado nas redes sociais condenando a sua eleição, mas de nada adiantou (igualzinho ao do Renan), pois o homem foi eleito para o cargo. Pelo jeito, a Câmara, o seu partido e a maioria dos deputados que participaram da votação estão pouco se lixando para a opinião pública.
A Comissão de Direitos Humanos e Minorias (CDHM) é uma das 20 comissões permanentes da Câmara dos Deputados, onde atua como órgão técnico constituído por 18 deputados membros e igual número de suplentes, apoiada por um grupo de assessores e servidores administrativos. Suas atribuições constitucionais e regimentais são receber, avaliar e investigar denúncias de violações de direitos humanos; discutir e votar propostas legislativas relativas à sua área temática; fiscalizar e acompanhar a execução de programas governamentais do setor; colaborar com entidades não-governamentais; realizar pesquisas e estudos relativos à situação dos direitos humanos no Brasil e no mundo, inclusive para efeito de divulgação pública e fornecimento de subsídios para as demais Comissões da Casa; além de cuidar dos assuntos referentes às minorias étnicas e sociais, especialmente aos índios e às comunidades indígenas, a preservação e proteção das culturas populares e étnicas do País.
Quando o presidente desta importante Comissão diz, em alto e bom som, acreditar que os negros são amaldiçoados porque descendem de Cam, o filho que tirou sarro de seu pai Noé, e que o amor entre pessoas do mesmo sexo leva à violência e à degradação é algo extremamente preocupante, pois ajuda a ratificar o preconceito responsável pela elevação do número de ações violentas contra gays e o racismo. É o equivalente a colocar um nazista para proteger os direitos dos judeus durante a 2ª Guerra Mundial.
Para quem não sabe, a maldição é contata no Livro do
Gênesis (Gênesis 9:18 – 10:32), no Antigo Testamento. Noé teria ficado nu ao se embebedar
com vinho e Cam (filho mais novo) ao ver o pai naquelas condições,
riu e contou a seus outros irmãos, Sem e Jafé. Noé, ao invés de
amaldiçoar o filho, lança sua indignação ao neto, Canaã. O fato é
que existem algumas dezenas de teorias diferenciadas sobre o
acontecimento narrado na Bíblia. De questionamentos homossexuais
entre Noé e Cam, até a tese de que o caçula tenha sido amaldiçoado
por estuprar a própria mãe. É possível, ainda, que Cam tenha se
casado com alguém da linhagem de Caim. Ou seja, no fim da história
Canaã de branco fica preto, por castigo. A maldição de Noé foi usada pelos povos
semitas (ou seja, descendentes de Sem, cujos hebreus fazem parte) como
justificativa para a conquista da terra de Canaã (ocupada pelos
cananeus, alegadamente descendentes de Canaã, o neto amaldiçoado).
O Ruim é que, infelizmente, muita gente pensa como o pastor Feliciano. A associação entre Cam (pai de Canaã) e a raça negra serviu como motivação política para justificar a escravidão dos negros pelos europeus e foi um argumento muito forte entre os povos protestantes de língua inglesa e no sul escravocrata dos EUA pré-Guerra Civil, portanto não é algo de hoje.
Para defesa dos direitos humanos esperava-se que o presidente de tal comissão fosse alguém capaz de coordenar uma agenda de discussões a respeito dos principais problemas enfrentados por parte da população e frear os grupos que tentam fazer dela um mercado de demagogias, aí surge um sujeito que já demonstrou não ter respeito pelas diferenças, nem pelo livro sagrado que carrega a tiracolo, uma lástima!