Levado às últimas consequências, o tal pacto de não agressão firmado
entre Aécio Neves e Eduardo Campos, ainda no ano passado, pode ser uma
das razões para explicar porque, pesquisa após pesquisa, os dois
continuam empacados no mesmo lugar, enquanto a presidente Dilma,
candidata à reeleição, segue liderando a corrida só voando no piloto
automático.
Os discursos com críticas à política econômica e à
imensa base aliada do governo são absolutamente iguais, sem que nenhum
dos dois consiga dizer uma palavra sobre o que pretende efetivamente
fazer para melhorar a vida dos brasileiros caso seja eleito.
A única diferença visível a olho nu entre os dois candidatos é que
Eduardo Campos, ao lado de Marina Silva, prega o surgimento de uma "nova
política", sem explicar do que se trata e como pretende governar,
enquanto Aécio se dedica no momento a celebrar os 20 anos do Plano Real,
sempre levando Fernando Henrique Cardoso a tiracolo como seu maior cabo
eleitoral.
Pelo jeito, até agora, não ganharam nenhum voto com isso. Aécio, com
17%, ainda está longe dos índices de José Serra na mesma época das duas
campanhas que disputou e perdeu, e Eduardo, que encarnaria a terceira
via, fora da polarização PT-PSDB, não passa dos 12%, sempre ficando
abaixo de Marina, segundo o último Datafolha.
A campanha dos candidatos "dois em um" acaba confundindo os eleitores
que não querem mais quatro anos de PT, porque ficam sem saber o que os
levaria a votar num ou noutro, já que divergências entre eles não há.
É verdade que Aécio é mais conhecido, está na oposição há mais tempo e
tem uma estrutura partidária maior, e Eduardo está estreando neste
papel, depois de romper com o governo Dilma no ano passado. Mas o fato é
que só um dos dois poderá passar ao segundo turno, caso haja uma nova
rodada, mantidas as atuais tendências das pesquisas.
E, em algum momento, um dos dois terá que dizer que discorda do outro em
qualquer coisa e apresentar alguma proposta diferente para o país, já
que até agora parecem defender uma candidatura única até nos adjetivos e
exemplos usados para desconstruir o governo Dilma.
Os dois garantem que vão manter os principais programas sociais dos
governos Lula-Dilma, mas prometem fazer algumas mudanças, sem explicitar
quais e como. Por enquanto, ambos são candidatos de oposição genéricos,
sem uma marca definida, faltando apenas sete meses para as eleições.
*Ricardo Kotscho, publicado originalmente no Balaio do Kotscho.
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