Em tempos de programa de Claudio Lima, na TOP FM, a cada dia ampliando sua audiência, e em épocas de investimento maciço em meios de comunicação virtual (leia-se facebook, twitters e blogs), convém dar uma lida no texto abaixo que reafirma a importância do segundo maior meio de comunicação em massa do Brasil:
Há um ator importante pouco lembrado nas campanhas eleitorais. Ele
integra o conjunto de meios de comunicação com capacidade para influir
no voto de muita gente. E é o segundo meio de comunicação mais utilizado
pela população (61% fazem isso), como mostra pesquisa do Ibope,
realizada a pedido da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da
República. Só perde para a TV, que é vista regularmente por 97% dos
brasileiros.
A atenção e as críticas feitas à TV são justas, proporcionais a sua abrangência. Com relação ao rádio, no entanto, a força é subestimada. Como o gato, que dizem ter sete vidas, a resiliência do rádio é histórica. Com transistores e FMs contornou, no passado, a concorrência da TV e, mais recentemente diante da internet, incorporou-se a ela ganhando alcance global, sem os velhos chiados das ondas curtas.
Se tecnologicamente o rádio evoluiu, o mesmo não se pode dizer em relação ao seu conteúdo. Entregue ao controle de empresas comerciais, acaba prestando reduzidos serviços à população. Ao corrermos o dial em qualquer cidade brasileira, temos raras opções de qualidade. Ouvimos pregações, músicas de gosto duvidoso, noticiários que misturam jornalismo com propaganda política disfarçada, ressalvando-se as exceções de praxe representadas, quase sempre, pelas emissoras públicas.
Nem sempre foi assim. Sem TV, o rádio reinou soberano com as grandes orquestras, os programas musicais, as coberturas esportivas e as notícias em tempo real. As ondas curtas traziam as informações da guerra através de emissoras estrangeiras, as mesmas que durante a ditadura (1964-1985) eram as únicas fontes de informação confiáveis sobre o que ocorria em nosso pais.
Sem dúvida esse poder encolheu, mas não desapareceu. Continua forte, sem despertar muita atenção. Os chamados comunicadores populares falam para milhões de pessoas todas as manhãs (o horário nobre do rádio) em várias cidades brasileiras. Em linguagem coloquial, decodificam para o seu público os textos dos jornais impressos, geralmente acompanhando e enaltecendo as opiniões invariavelmente conservadoras neles publicadas.
O subproduto dos engarrafamentos de trânsito, rotineiros nas cidades brasileiras, é o aumento da audiência do rádio. Em busca de notícias, o motorista, quando as encontra, é obrigado a ouvir também comentários sobre variados assuntos, com destaque para aqueles frequentes nos quais o país é sempre apresentado como se estivesse à beira do abismo.
Mas a importância do rádio num país como o nosso não fica por ai. Em época de tablets e facebooks, as velhas cartinhas escritas à mão ainda chegam, por exemplo, pelo correio, aos estúdios da Rádio Nacional da Amazônia, em Brasília. Solicitam músicas, mas também pedem que sejam dadas notícias sobre a chegada de parentes, remédios ou de outras encomendas pelos barcos que circulam na região. A abrangência territorial e cultural do rádio evidencia o poder do seu papel político-eleitoral. Seus controladores fazem política todos os dias, a todas as horas, só existindo dois momentos de trégua. Um diário, ocupado pela Voz do Brasil, e outro sazonal, representado pelo horário eleitoral obrigatório que antecede as eleições. Neste ano, começa em 19 de agosto.
São momentos de equilíbrio político, conquistas da sociedade brasileira, mesmo com deficiências na sua distribuição e controle. Para aprofundar a democracia, é fundamental que esses espaços se ampliem. O caminho mais eficaz para isso é a existência de uma legislação – semelhante à da Argentina – que abra espaço no rádio (e também na TV) para as mais variadas correntes políticas existentes na sociedade. Para que elas possam se expressar todos os dias e não apenas às vésperas das eleições, como ocorre hoje.
A atenção e as críticas feitas à TV são justas, proporcionais a sua abrangência. Com relação ao rádio, no entanto, a força é subestimada. Como o gato, que dizem ter sete vidas, a resiliência do rádio é histórica. Com transistores e FMs contornou, no passado, a concorrência da TV e, mais recentemente diante da internet, incorporou-se a ela ganhando alcance global, sem os velhos chiados das ondas curtas.
Se tecnologicamente o rádio evoluiu, o mesmo não se pode dizer em relação ao seu conteúdo. Entregue ao controle de empresas comerciais, acaba prestando reduzidos serviços à população. Ao corrermos o dial em qualquer cidade brasileira, temos raras opções de qualidade. Ouvimos pregações, músicas de gosto duvidoso, noticiários que misturam jornalismo com propaganda política disfarçada, ressalvando-se as exceções de praxe representadas, quase sempre, pelas emissoras públicas.
Nem sempre foi assim. Sem TV, o rádio reinou soberano com as grandes orquestras, os programas musicais, as coberturas esportivas e as notícias em tempo real. As ondas curtas traziam as informações da guerra através de emissoras estrangeiras, as mesmas que durante a ditadura (1964-1985) eram as únicas fontes de informação confiáveis sobre o que ocorria em nosso pais.
Sem dúvida esse poder encolheu, mas não desapareceu. Continua forte, sem despertar muita atenção. Os chamados comunicadores populares falam para milhões de pessoas todas as manhãs (o horário nobre do rádio) em várias cidades brasileiras. Em linguagem coloquial, decodificam para o seu público os textos dos jornais impressos, geralmente acompanhando e enaltecendo as opiniões invariavelmente conservadoras neles publicadas.
O subproduto dos engarrafamentos de trânsito, rotineiros nas cidades brasileiras, é o aumento da audiência do rádio. Em busca de notícias, o motorista, quando as encontra, é obrigado a ouvir também comentários sobre variados assuntos, com destaque para aqueles frequentes nos quais o país é sempre apresentado como se estivesse à beira do abismo.
Mas a importância do rádio num país como o nosso não fica por ai. Em época de tablets e facebooks, as velhas cartinhas escritas à mão ainda chegam, por exemplo, pelo correio, aos estúdios da Rádio Nacional da Amazônia, em Brasília. Solicitam músicas, mas também pedem que sejam dadas notícias sobre a chegada de parentes, remédios ou de outras encomendas pelos barcos que circulam na região. A abrangência territorial e cultural do rádio evidencia o poder do seu papel político-eleitoral. Seus controladores fazem política todos os dias, a todas as horas, só existindo dois momentos de trégua. Um diário, ocupado pela Voz do Brasil, e outro sazonal, representado pelo horário eleitoral obrigatório que antecede as eleições. Neste ano, começa em 19 de agosto.
São momentos de equilíbrio político, conquistas da sociedade brasileira, mesmo com deficiências na sua distribuição e controle. Para aprofundar a democracia, é fundamental que esses espaços se ampliem. O caminho mais eficaz para isso é a existência de uma legislação – semelhante à da Argentina – que abra espaço no rádio (e também na TV) para as mais variadas correntes políticas existentes na sociedade. Para que elas possam se expressar todos os dias e não apenas às vésperas das eleições, como ocorre hoje.
*Por Laurindo Lalo Leal Filho, publicado originalmente na Revista do Brasil
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