Comerciante diz que pagou R$ 5 mil por aumento de bumbum com falsa biomédica (Foto: Sílvio Túlio/G1) |
Uma comerciante de 46 anos, que afirma ter feito uma aplicação para
aumentar o bumbum com a falsa biomédica Raquel Policena Rosa, 27, disse
que desistiu de fazer uma nova etapa do procedimento após saber da morte
da ajudante de leilão Maria José Medrado de Souza Brandão, de 39 anos,
no último dia 25. "Desisti do retoque depois que vi na TV [a notícia da
morte]. Depois até tentei falar com ela [Raquel], mas não consegui",
disse a vítima, que não quis se identificar, ao G1.
A mulher conta que realizou a aplicação no último dia 18 de agosto, em um hotel no Setor Central, em Goiânia. O local é diferente de onde Raquel teria feito o procedimento em Maria José, no Setor Oeste.
A comerciante procurou o 17º Distrito Policial na terça-feira (11), mas
não chegou a prestar depoimento, pois a delegada Myrian Vidal,
responsável pelas investigações, não estava na delegacia.
Segundo a cliente, que afirma ter pago R$ 5 mil pelo procedimento, Raquel fez a aplicação com a ajuda de outra mulher. "Essa mulher se apresentou como uma médica, que morava no Rio de Janeiro e vinha em Goiânia uma vez por mês para fazer a aplicação. Ela disse que lá cobrava R$ 9 mil, mas aqui, como tinha muitas clientes, o preço era R$ 5 mil", revela a vítima.
Segundo a cliente, que afirma ter pago R$ 5 mil pelo procedimento, Raquel fez a aplicação com a ajuda de outra mulher. "Essa mulher se apresentou como uma médica, que morava no Rio de Janeiro e vinha em Goiânia uma vez por mês para fazer a aplicação. Ela disse que lá cobrava R$ 9 mil, mas aqui, como tinha muitas clientes, o preço era R$ 5 mil", revela a vítima.
Procurada, a delegada informou que tentará identificar quem seria a
mulher que aplicou o produto junto com Raquel naquele dia, como relatou a
cliente ao G1. A comerciante deve formalizar o depoimento à polícia nos próximos dias.
Filas
Assim como boa parte das mulheres que fizeram o procedimento com Raquel, a comerciante afirma que a conheceu por meio das redes sociais. Ela diz que resolveu fazer a aplicação por "não estar satisfeita com o corpo" e revela que chegou a enfrentar fila para ser atendida. "Tinha muita mulher lá, mais de 20. E chegavam outras a toda hora", lembra.
A cliente afirma que foi vítima de um "golpe" aplicado por Raquel.
Segundo ela, a falsa biomédica trocou o lugar da aplicação momento antes
dela ocorrer. "Inicialmente, ela falou que ia ser em uma clínica no
Setor Marista, mas, quando estava indo para o local, ela me ligou e
disse que tinha passado para o hotel porque o horário da clínica tinha
expirado. Por isso não desconfiei de nada", revela.
A clínica no Setor Marista também é investigada pela polícia, já que
Raquel teria feito algumas aplicações no local. A polícia pretende ouvir
cinco testemunhas, incluindo funcionários do estabelecimento, nesta
quarta-feira (12).
Outra clínica, localizada no Parque das Laranjeiras, foi interditada no último dia 28 de outubro por falta de alvará sanitário e multada em R$ 2 mil.
Outra clínica, localizada no Parque das Laranjeiras, foi interditada no último dia 28 de outubro por falta de alvará sanitário e multada em R$ 2 mil.
Praticante de artes marciais, a mulher disse que está arrependida e
que, após a aplicação, sente as pernas mais fracas. Ela também reclama
de dores de cabeça constantes e diárias, que não tinha antes do
procedimento.
Preocupada, ela afirmou que suspeita que o produto não fosse hidrogel,
mas sim silicone industrial. "Hoje, eu não acredito que era hidrogel. O
que ela aplicou estava em um vidro maior, de cor marrom. O hidrogel é um
gel transparente, que só vende em pequenas porções. Soube disso depois
que eu fui pesquisar sobre o assunto", salienta.
Outra paciente
Em bate-papo, Raquel diz que não lembrava de cliente: 'São tantas' (Foto: Arquivo pessoal) |
Outra cliente de Raquel, uma empresária de 30 anos, que pediu para não
ser identificada, também foi até a delegacia na tarde de terça-feira.
Ela explicou que, após o procedimento, realizado no dia 18 de agosto,
também sente dores de cabeças todos os dias.
"Além disso, o produto vazou. Aí, por indicação da Raquel, fiz o
curativo com esparadrapo e cola instantânea", diz a mulher, que pagou R$
2,5 mil a vista pelo procedimento, além de 10 prestações de R$ 121,74.
Ela salienta que fez a aplicação contra a vontade do namorado e que
está arrependida. "Ele não me apoiou, disse que eu estava louca e que
estava satisfeito com o meu corpo. Mas mulher sempre quer mais",
lamenta.
Uma conversa entre as duas em uma rede social confirma que Raquel
atendia várias clientes por dia. A empresária fala com a falsa
biomédica, que responde: "Não me lembro. Você marcou comigo? É que são
tantas pessoas que acabo me esquecendo".
Vítimas
Até agora, a Polícia Civil identificou 14 mulheres que fizeram a aplicação para aumentar o bumbum com Raquel, contando com a ajudante de leilão Maria José Brandão, que morreu. Segundo a delegada Myrian Vidal, todas relataram problemas de saúde após as aplicações nas nádegas. "Já ouvimos seis delas. As demais devem ser ouvidas nos próximos dias. Mas já temos informações de que todas passaram mal após o procedimento", disse ao G1.
As investigações ainda tentam descobrir se o produto usado foi
hidrogel, como disse Raquel em depoimento, ou silicone industrial.
“Algumas das vítimas já tiveram substâncias colhidas, que são
analisadas. Mas pelo que já apuramos até agora existe a forte suspeita
sobre o silicone industrial. Estamos no aguardo dos laudos”, disse.
Na segunda-feira (10), o
namorado de Raquel, o professor de idiomas Fábio Justiniano Ribeiro, de
33 anos, prestou depoimento e negou ter realizado as aplicações com a
companheira. Ele disse que que viu a falsa biomédica comprando o
produto no meio da rua, em Mogi Guaçu (SP), onde também fez um curso de
bioplastia.
Quando foi ouvida pela polícia, no dia 3 de novembro, Raquel já havia
descartado a participação do namorado nos procedimentos. No entanto, a
polícia não acredita na versão de Fábio. Segundo a delegada, ele deve
responder por exercício ilegal da profissão e, caso fique comprovado que
Maria José morreu em decorrência da aplicação do produto, por
homicídio. "Com o resultado do exame cadavérico, poderemos informar se
no caso dele [Fábio], o crime será doloso ou culposo", pontua.
Fotos
Uma das clientes, de 35 anos, fez imagens do momento em que o procedimento ocorreu, em um hotel de Goiânia. A mulher, que é estudante de biomedicina e trabalha em uma clínica médica, diz que não desconfiou da postura de Raquel. “Quase morri e ainda estou assim, correndo risco de embolia, pois [o material] está correndo na minha corrente sanguínea. Estou tomando antibiótico, não durmo. Vocês não têm noção da minha tortura”, disse.
Fotos mostram cliente durante aplicações atribuídas à falsa biomédica (Foto: Arquivo pessoal) |
Ela afirma que fez as sessões nos últimos dias 12 e 24 de outubro e que,
logo após a segunda aplicação, se sentiu mal. Ela buscou ajuda médica e
ficou quatro dias internada. Atualmente, ainda continua a fazer
tratamento e diz que não consegue ver como está seu bumbum. “Eu nem
olho. Fazem o curativo e eu não quero ver. Só vou olhar depois de
cicatrizado, com tudo arrumado”, diz.
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