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Pensamentos aleatórios

5 de março de 2015

Carta aberta ao Padre Luiz Augusto Ferreira


Prezado Padre,

Li, com grande estupefação, a matéria de O Popular em que o senhor é apontado como funcionário fantasma da Assembleia Legislativa do Estado de Goiás há, pelo menos, 20 anos. Fiquei ainda mais impressionado ao ler sua entrevista ao jornal, em que afirma ter tentado pedir demissão por oito vezes, sendo tal pedido negado em todas as ocasiões. Ora, Vossa Reverência há de me perdoar por isso, mas, inicialmente, achei difícil ser verdade.

Foi difícil para eu, e creio que também foi para a maioria da população, acreditar que qualquer pessoa com um emprego como o do senhor abrisse mão da mamata regalia de receber 11 mil reais sem trabalhar. E o mais impressionante: que o senhor não tocou num único centavo desses rendimentos amealhados durante esses 20 anos! No entanto, é claro, isso é o pensamento que passaria pela cabeça de uma pessoa normal, não de um santo como o senhor, que conhece e entende os desígnios de Deus. Aí me dei conta do grande plano divino que estava se desenrolando.

Entendi como um santo que desde 1995, quando foi ordenado padre, se afastou de suas atribuições de servidor público, mas mesmo assim, num ato de extremo sacrifício e constrangimento, ainda continuou a receber o polpudo salário de analista legislativo do parlamento goiano - uma provação sem tamanho! 

E tal provação continuaria por tempo indeterminado, se não fosse a intervenção divina que, como no livro de Jó, liberou Satanás de suas amarras para testar sua fé e devoção, permitindo que seu suplício viesse a público e fosse possível compartilhar o peso desse fardo com todos os fieis à sua obra.

E se esse episódio prova alguma coisa é que Deus, mesmo escrevendo por linhas tortas, é bom e sabe o que faz. Permitiu que o senhor suportasse por 20 anos tal provação, mas lhe deu sabedoria de guardar o dinheiro recebido de forma irregular durante todo esse tempo, que soma aproximadamente dois milhões de reais, e que agora, num gesto de abnegação e fé renovada, poderão ser devolvidos aos cofres públicos.

Logo após o senhor poderá, finalmente, se ver livre desse fardo, pedindo a tão sonhada demissão que, sem dúvida, desta vez, será acatada pelo atual presidente da Assembleia, deputado Hélio de Souza, afinal tudo o que está acontecendo nada mais é que uma prova de que Deus existe e está atuando sobre sua vida (e contra a vontade de Deus nenhum homem pode agir).

E é essa a saída, do contrário será a confirmação de que o senhor não é um santo, mas sim um mentiroso salafrário, cujo deus é o vil metal dos ricos e poderosos que frequentam a casa paroquial. Um mentiroso arrogante e deslumbrado, que a Igreja Católica teve toda a razão em afastar da Paróquia Sagrada Família, em 2011, e que voltou a juntar multidões em suas missas apenas por influência dos amigos ricos, com destaque para o cartorário Maurício Sampaio, principal suspeito de ser o mandante do assassinato do radialista Valério Luiz, filho do deputado Mané de Oliveira, cuja chegada a Assembleia agora pode ser vista, também, como parte da divina providência.

Eu acredito no senhor, padre Luiz Augusto. Fique com Deus, amém!

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