Após pouco mais de uma semana, terminou hoje a ocupação do prédio da Direção da UFG Catalão por estudantes que, desde o dia 23 de maio, usavam desse expediente para protestar contra o cancelamento da concessão de cerca de 47 bolsas de assistência à moradia concedidas por um edital que foi suspenso por recomendação da Procuradoria Jurídica da Universidade (o edital não previa resultados preliminares) o que colocou os estudantes em situação complicada, pois muitos dependem dessa pequena ajuda para se manter na cidade e dar continuidade em seus estudos e se viram sem alternativa, pois a decisão da Reitoria era para que esperassem o trâmite completo do edital, cujo resultado final só sairia em julho, algo impensável para qualquer estudante que se deslocou para longe de casa e veio ocupar uma vaga por meio do Sisu (Sistema de Seleção Unificada).
A reação inédita dos estudantes provocou uma reflexão na comunidade acadêmica da UFG Catalão, que passou a debater a qualidade da assistência estudantil e as condições oferecidas para garantir a permanência dos estudantes na universidade, feita exclusivamente por meio de bolsas assistenciais, frutos do Programa Nacional de Assistência Estudantil (PNAES) criado em conjunto com a expansão de vagas do sistema federal de Ensino Superior. As alternativas oferecidas pela Reitoria, e encaminhadas ao movimento pela Direção, não contemplavam as demandas dos estudantes, o que fez o assunto chegar ao Conselho Gestor do Câmpus Catalão, instância máxima local, que após três reuniões e muito debate tomou a corajosa decisão de alterar o plano diretor do câmpus 2 e destinar ali um espaço para a construção da Casa do Estudante Universitário de Catalão. Além disso foi definida também a prioridade na tramitação de todos os processos administrativos, legais e políticos para viabilizar a construção da Casa, inclusive suspendendo a licitação do Centro de Convivência, outra demanda antiga da comunidade acadêmica, mas que nesse momento ficou em segundo plano, pois optou-se pela construção com o maior alcance social.
Tal resultado não foi uma derrota da Direção nem da Reitoria, já que a decisão saiu do Conselho Gestor, que representa todos os segmentos da comunidade acadêmica, e por ampla maioria de votos, o que prova o reconhecimento da demanda. É uma vitória dos estudantes, mas também uma vitória da comunidade acadêmica local, pois poucas vezes se viu uma mobilização tão grande em torno de um assunto interno, que não era consensual e teve vários enfrentamentos, é claro, mas terminou com a melhor solução possível e com a consolidação de mais um grande passo ao processo de criação das condições para a autonomia administrativa e transformação do câmpus da UFG na UFCAT autônoma.
Essa batalha acabou, mas ainda há muitas outras para serem travadas: o edital não contempla a atual forma de entrada dos estudantes e precisa ser alterado, possibilitando os resultados preliminares questionados pela Procuradoria; o valor da bolsa ainda é pequeno e não contempla a realidade imobiliária catalana; creche-escola para os filhos dos estudantes (de professores e técnicos também); mais atividades culturais e de lazer; RU mais barato para todos, com café da manhã e funcionamento nos finais de semana; mais monitorias e programas de nivelamento e acompanhamento discente; o Centro de Convivência, urbanização, acessibilidade e muitas outras questões que o movimento de ocupação dos estudantes ensinou a todos os doutores que são possíveis de ser conseguidas, desde que a submissão ao que está posto deixe de ser regra e passe a ser a exceção nesse ambiente que já foi o mais questionador da sociedade, mas que há tempos está acomodado e inerte.
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