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Pensamentos aleatórios

20 de dezembro de 2012

O melancólico fim da CPI do Cachoeira



Já escrevi um texto aqui dizendo que o povo goiano ainda vai ter orgulho do Carlinhos Cachoeira (opinião dele, mas sou forçado a concordar) e justifiquei dizendo que a memória curta da população, junto com a ausência de resultados das investigações sobre ele, mais a volta de todos os apoios políticos hoje distantes produziriam um cenário de compaixão e posterior identificação com o sujeito sofrido que vem de baixo e consegue superar as dificuladades e subir na vida. Pois bem, o texto abaixo eu li no blog do Ricardo Noblat (http://oglobo.globo.com/pais/noblat/), que já é o início do que está por vir aí em matéria de limpar a imagem do Cachoeira, gostei e por isso reproduzo aqui: 

Perdas e danos, por Ricardo Noblat

Como podia acabar bem ou mais ou menos uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) criada com o propósito de embaraçar o julgamento de uma série de crimes?
Foram Lula e José Dirceu que tiveram a ideia de montar a CPI do Cachoeira ao conferir que seria impossível adiar o julgamento do processo do mensalão - o pagamento de propina para que deputados votassem como queria o governo.
Não se deram ao trabalho sequer de consultar Dilma, que na época viajara ao exterior. O objetivo principal deles era usar a CPI para dividir com o julgamento do mensalão o espaço da mídia.
Afinal, o PT não se desgastaria sozinho se a CPI:
* apurasse as ligações do bicheiro Carlinhos Cachoeira com o então senador Demóstenes Torres (DEM-GO) e o governador Marcone Perillo (PSDB), de Goiás. DEM e PSDB tomariam juntos um banho de lama.
* constrangesse ministros do Supremo Tribunal Federal (alô, alô, Gilmar Mendes!) sugerindo que eles faziam negócios com Cachoeira. Lula em pessoa procurou Gilmar para conversar a respeito. Levou um corretivo.
* vendesse a tese de que VEJA e Cachoeira atuavam em dobradinha. O bicheiro armava histórias contra o governo - a revista publicava. Retribuía publicando também reportagens do interesse dele. Lula detesta a VEJA.
A CPI herdou do Ministério Público e da Polícia Federal tudo o que eles haviam descoberto sobre Cachoeira e as atividades de sua quadrilha na exploração de jogos eletrônicos.
Quer dizer: nem traballho pesado precisava encarar para justificar seu funcionamento. Uma vez esgotado o período de sua duração, bastaria remeter de volta ao Ministério Público o que dele recebera, e da polícia.
O plano de Lula e de Dirceu começou a dar errado quando a CPI farejou o que não estava previsto no seu scripit: a sociedade de Cachoeira com Fernando Cavendish, dono da construtora Delta.
Cavendish é amigo de políticos poderosos - entre eles Sérgio Cabral, governador do Rio de Janeiro. E é reconhecido por todos como um generoso financiador de campanhas eleitorais.
A Delta é responsável pelo maior número de obras do Programa de Aceleração do Crescimento, do governo federal. Mexeu com a Delta significaria mexer com o governo federal e a maioria dos governos estaduais.
A CPI do Cachoeira acabou da forma mais vergonhosa possível: nem mesmo relatório final conseguiu aprovar.

o final melancólico da CPI do Cachoeira

O PSDB salvou Perillo. PSDB e PMDB salvaram a Delta. O governo federal observou à distância, satisfeito.
Lula, Dirceu e o PT ficaram a pé.
Na verdade ficaram em pior situação. O fracasso da CPI coincidiu com o sucesso do julgamento do mensalão.
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