Desde terça-feira o assunto mais discutido em Catalão vem sendo a reunião da Câmara de Vereadores. Normalmente monótona (exceto quando as picaretas aparecem) a reunião do dia 07 bombou. Não pelos debates acalorados travados no plenário, mas justamente pela ausência destes, uma vez que os vereadores da oposição (PMDB e PSC), numa estratégia de esvaziamento, não compareceram à reunião visando provocar a suspensão da mesma por falta de quórum. Infelizmente para a turma de Deusmar dois edis furaram o esquema e compareceram à sessão (Daniel do Floresta e Leonardo Bueno), o que levou ao início da mesma e à aprovação de um projeto de suplementação orçamentária, aumentando de 10% para 70% a capacidade do prefeito em movimentar recursos do orçamento municipal sem autorização da Câmara, o que na prática se traduz em total autonomia para o Poder Executivo. Desde então o assunto repercute na cidade, principalmente nos blogs e no Facebook, sendo "traíra" a palavra mais usada para descrever os vereadores Daniel e Leonardo.
E será que os críticos estão certos em atacar tanto esses dois edis? Do ponto de vista da estratégia oposicionista sim, já que ambos furaram um esquema previamente combinado; já do ponto de vista do compromisso com seus eleitores não, pois compareceram à sessão (obrigação mínima de um vereador eleito) e votaram um projeto do Executivo, se foi a favor ou contra a determinação do partido pouco importa. Ah, mas esperaí, eles traíram sim seus eleitores votando a favor de Jardel, e já que foram eleitos pelo Adib deveriam se manter fiéis ao líder para o qual pediram votos, traição maior não poderia existir. Poderia até ser verdade, mas o fato é que ninguém liga (ou sabe o que é) para posição e coerência política, pois os atuais edis, em sua maioria, não levam a sério a função e apenas brincam de ser vereador.
A brincadeira é boa: o salário vem certinho; pode-se chamar amigos para brincar à custa dos cofres públicos; a participação na sessão (uma única vez por semana) é opcional e o sujeito não precisa sequer aprender nenhuma noção do que é atuação parlamentar, basta fazer alguns requerimentos, participar de festas e inaugurações e, Daniel e Leonardo descobriram agora, ser aliado do prefeito. Sim, porque brincar de vereador adversário do prefeito é muito sem graça: os requerimentos não são atendidos; não se consegue nenhuma cesta básica ou medicamento na prefeitura; doação de material de construção; veículo para levar gente em Goiânia... enfim, não se consegue realizar nenhuma das funções para as quais um vereador é eleito. Sim, porque esse negócio de legislar e fiscalizar é coisa secundária, função de vereador é ajudar o povo (às custas do dinheiro público, é claro).
É claro que nem todo mundo lá está brincando. João Antônio (tirando o episódio da picareta), Paulinho e Deusmar (sim, ele mesmo) levam a sério seus mandatos e respeitam seus eleitores. Deusmar só peca na hora de traçar estratégias confiando na fidelidade dos colegas, em especial dos novatos. Antes chamar todo mundo para a sessão e combinar o voto contrário. Argumentos não faltam e, salvo João Antônio, poucos são os vereadores da situação que dão conta de debater com a mesma eloquência (no sentido de falar e ser entendido) de Deusmar, Gilmar e Paulo César. Lamentável terem escolhido o boicote como opção de embate. No parlamento ganha quem se faz entender melhor e ausentar-se do debate é o equivalente a perder por W.O. Não ir à sessão foi um tiro no pé para a oposição e provocou uma enorme vitória do prefeito, que castrou definitivamente o Poder Legislativo Municipal.
Aos que estão criticando tanto os dois traíras é bom lembrar que quatro anos passam rápido e o aliado de hoje pode ser o desafeto de amanhã, ou o contrário, portanto é melhor não denegrir a imagem de ninguém, pois ele pode estar no mesmo palanque daqui um tempo. Além disso, é bom frisar que são raros aqueles que realmente são eleitos e devem satisfação ao eleitor e ao partido político. A grande maioria compra seu mandato e depois não deve satisfação a ninguém, daí cobrar fidelidade e coerência não faz sentido algum, especialmente quando o projeto maior do sujeito é garantir a reeleição (e a brincadeira), afinal para continuar com o sonho de ajudar o povo vale tudo, desde trair os colegas e se aliar ao prefeito, passando por ser chamado de bobo e traíra, até pedir desculpas pro Marconi e acompanhá-lo na Festa do Rosário. Tudo em nome do povo!!!
E viva a política!!! |