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Pensamentos aleatórios

5 de junho de 2013

Faroeste Caboclo, eu vi o filme


Fui ontem ao Cine Lumière ver o filme Faroeste Caboclo, com bastante expectativa. Eu, assim como qualquer pessoa que tenha sido fisgada pela introdução de voz e violão, e que sabia de cor os 168 versos que narravam a epopeia de João de Santo Cristo na música “Faroeste Caboclo” sempre imaginei: "essa história daria um bom filme". Eis que vinte e seis anos depois do lançamento da música a saga de João de Santo Cristo ganha as telas de cinema, tendo tudo para ser o melhor filme nacional de todos os tempos, afinal toda uma geração estava esperando para VER essa história. Chegado o filme a grande questão é: cumpriu as expectativas?

Pra início de conversa: o filme é bom! Quem lembra da música e esperava um clipe alongado, esmiuçando todas as passagens, pode se decepcionar (cadê o boiadeiro em Salvador que ia perder a viagem?), mas a escolha do diretor (Renê Sampaio, em o seu primeiro trabalho) de fugir do tom ambicioso e populista da letra de Renato Russo se mostrou acertada. Estão lá a winchester 22, Pablo, Jeremias, Maria Lúcia, o lote 14 da Ceilândia e muito mais, só que João (Fabrício Boliveira, excelente no papel) não é mais o mártir de uma sociedade corrompida (que queria falar com o presidente para ajudar toda essa gente), ou o porta-voz de um Brasil miserável, negligenciado: é, ele próprio, um desses esquecidos; homem que conheceu apenas a brutalidade da miséria e da violência, mas que experimentou brevemente, ao lado de Maria Lúcia (Ísis Valverde, linda), outra vida e outro ideal, que lhe inspiraram o recomeço. Projeto fracassado, porque o passado de João, suas origens, sua cor, lhe anulam o presente e lhe negam o futuro, num Brasil anacrônico, quase selvagem, do início dos anos 80, que lembra, no entanto, em muitos aspectos, o de hoje.

A aposta na atualidade da canção, sem segui-la de forma literal, foi uma ideia acertada. Se o filme que passa na tela não lembra em muito o que eu imaginava ao ouvir a música, isso se deve ao fato de que a trama imaginada por Renato Russo funciona apenas, e tão somente, na música. A ideia do “bom bandido”, vítima da sociedade, já não faz sentido hoje, e cenas como a do duelo midiático, da “via-crúcis que virou circo”, menos ainda. O João de Santo Cristo do filme morre sozinho, sem espetáculo, como acontece cotidianamente no cenário da violência urbana brasileira.

Essa é a proposta do filme. Mas o roteiro falha em pontuar cenas cruciais da trama, o que acaba por prejudicar o belo trabalho. O tom exagerado de western do final (talvez para justificar o título) destoa do realismo do restante do filme. Tá certo que tem “Faroeste” no nome da música, mas a cena poderia ser mais sutil. Também é muito mal bolada a cena da desajeitada emboscada de João e Pablo a Jeremias (o sujeito estava escondido e vai a uma "roconha" promovida pelo inimigo?), mas as belas cenas de romance de João com Maria Lúcia, ou as inserções da infância do protagonista (com destaque para as passagens com seu pai), a bela fotografia e a reconstituição de época (da Brasília dos anos 80) garantem a satisfação visual, por isso mesmo acho que quem não conhece a música pode gostar mais do filme, porque qualidades ele tem de sobra.

Enfim, Faroeste Caboclo é um bom filme; competentíssimo na parte técnica, com ótimas interpretações dos atores e boa direção, mas acaba não atingindo as alturas que o seu começo prometia. No filme quem conta a história é o próprio João de Santo Cristo, que todos sabemos vai a morrer no final, mas o clímax desperdiçado acaba frustrando as expectativas e fica uma sensação de que faltou algo. Até quis esperar os créditos passarem (única hora em que a música toca) para ver se havia uma cena adicional que completaria o final do filme, mas as luzes foram acesas e a projeção interrompida. 

Compensa gastar o ingresso do Bretas para ver o filme? Sim, compensa! Mesmo o final deixando um gostinho amargo, ver na tela grande uma história tão conhecida e aguardada compensa as falhas no roteiro, além do fato de João contar a própria história deixar a gente imaginando que ele poderá escapar de sua sina e ser feliz com Maria Lúcia, o que não acontece, diga-se, mas bem que poderia.

Bônus: Para quem não lembra, ou não conhece a música, segue um clipe, contando numa animação joia a história de João de Santo Cristo:



2 comentários:

  1. Olá, Roberto! Comecei a acessar o blog e gostei da forma como você escreve. Eu gostei bastante do filme 'Faroeste Caboclo'. Na minha opinião, ele começou sem muitas pretensões e começou a me envolver durante o decorrer do filme. Continue Postando.

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  2. Olá Lucas! Eu também gostei bastante do filme e por ser fã da música me deleitava quando via as passagens sendo reproduzidas na tela. Gostei também do tom realista que o diretor deu e da ótima atuação dos atores, só acho que pecou um pouco na reta final, não sei, mas acho que ficou faltando alguma coisa...
    Obrigado por acessar o blog e pelo comentário, se tiver tempo acesse também as páginas no Google+ e no Facebook, marcando e curtindo-as. Um fraterno abraço.

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