Fui ontem ao Cine Lumière
ver o filme Faroeste Caboclo, com bastante expectativa. Eu, assim como qualquer
pessoa que tenha sido fisgada pela introdução de voz e violão, e que sabia de
cor os 168 versos que narravam a epopeia de João de Santo Cristo na música
“Faroeste Caboclo” sempre imaginei: "essa história daria um bom
filme". Eis que vinte e seis anos depois do lançamento da música a saga de
João de Santo Cristo ganha as telas de cinema, tendo tudo para ser o melhor
filme nacional de todos os tempos, afinal toda uma geração estava esperando
para VER essa história. Chegado o filme a grande questão é: cumpriu as
expectativas?
Pra início de conversa: o
filme é bom! Quem lembra da música e esperava um clipe alongado, esmiuçando
todas as passagens, pode se decepcionar (cadê o boiadeiro em Salvador que ia
perder a viagem?), mas a escolha do diretor (Renê Sampaio, em o seu primeiro
trabalho) de fugir do tom ambicioso e populista da letra de Renato Russo se
mostrou acertada. Estão lá a winchester 22, Pablo, Jeremias, Maria Lúcia, o
lote 14 da Ceilândia e muito mais, só que João (Fabrício Boliveira, excelente
no papel) não é mais o mártir de uma sociedade corrompida (que queria falar com
o presidente para ajudar toda essa gente), ou o porta-voz de um Brasil
miserável, negligenciado: é, ele próprio, um desses esquecidos; homem que
conheceu apenas a brutalidade da miséria e da violência, mas que experimentou
brevemente, ao lado de Maria Lúcia (Ísis Valverde, linda), outra vida e outro
ideal, que lhe inspiraram o recomeço. Projeto fracassado, porque o passado de
João, suas origens, sua cor, lhe anulam o presente e lhe negam o futuro, num
Brasil anacrônico, quase selvagem, do início dos anos 80, que lembra, no
entanto, em muitos aspectos, o de hoje.
A aposta na atualidade da
canção, sem segui-la de forma literal, foi uma ideia acertada. Se o filme que passa
na tela não lembra em muito o que eu imaginava ao ouvir a música, isso se deve
ao fato de que a trama imaginada por Renato Russo funciona apenas, e tão somente, na música. A
ideia do “bom bandido”, vítima da sociedade, já não faz sentido hoje, e cenas
como a do duelo midiático, da “via-crúcis que virou circo”, menos ainda. O João
de Santo Cristo do filme morre sozinho, sem espetáculo, como acontece
cotidianamente no cenário da violência urbana brasileira.
Essa é a proposta do
filme. Mas o roteiro falha em pontuar cenas cruciais da trama, o que acaba por
prejudicar o belo trabalho. O tom exagerado de western do final (talvez para justificar o título) destoa do
realismo do restante do filme. Tá certo que tem “Faroeste” no nome da música,
mas a cena poderia ser mais sutil. Também é muito mal bolada a cena da
desajeitada emboscada de João e Pablo a Jeremias (o sujeito estava escondido e
vai a uma "roconha" promovida pelo inimigo?), mas as belas cenas de
romance de João com Maria Lúcia, ou as inserções da infância do protagonista (com destaque para as passagens com seu pai), a
bela fotografia e a reconstituição de época (da Brasília dos anos 80) garantem a
satisfação visual, por isso mesmo acho que quem não conhece a música pode gostar mais do filme, porque qualidades ele tem de sobra.
Compensa gastar o ingresso do Bretas para ver o filme? Sim, compensa! Mesmo o final deixando um gostinho amargo, ver na tela grande uma história tão conhecida e aguardada compensa as falhas no roteiro, além do fato de João contar a própria história deixar a gente imaginando que ele poderá escapar de sua sina e ser feliz com Maria Lúcia, o que não acontece, diga-se, mas bem que poderia.
Bônus: Para quem não lembra, ou não conhece a música, segue um clipe, contando numa animação joia a história de João de Santo Cristo:
Olá, Roberto! Comecei a acessar o blog e gostei da forma como você escreve. Eu gostei bastante do filme 'Faroeste Caboclo'. Na minha opinião, ele começou sem muitas pretensões e começou a me envolver durante o decorrer do filme. Continue Postando.
ResponderExcluirOlá Lucas! Eu também gostei bastante do filme e por ser fã da música me deleitava quando via as passagens sendo reproduzidas na tela. Gostei também do tom realista que o diretor deu e da ótima atuação dos atores, só acho que pecou um pouco na reta final, não sei, mas acho que ficou faltando alguma coisa...
ResponderExcluirObrigado por acessar o blog e pelo comentário, se tiver tempo acesse também as páginas no Google+ e no Facebook, marcando e curtindo-as. Um fraterno abraço.