O Capitão América sempre foi, fora dos Estados Unidos, um herói de poucos fãs. O seu bom mocismo, beirando a bobeira extrema, e sua identificação com o exagerado patriotismo americano pouco empolgaram aqueles que gostam de quadrinhos, relegando a "Sentinela da Liberdade" a uma posição de coadjuvante de luxo no universo Marvel (quase um Aquaman com escudo). Eis que uma reformulação na casa de ideias atualizou o herói e fez com que ele conseguisse recuperar um lugar no pódio dos bons personagens nos quadrinhos, com destaque para a versão Ultimate (não por acaso é a versão em que se baseia o filme dos Vingadores) e o arco de histórias do Soldado Invernal (A ameaça vermelha e A morte de um sonho), portanto, para quem conhece as HQs, a expectativa com esse segundo filme do bandeiroso era grande, pois juntaria na tela do cinema duas grandes versões do herói. E posso afirmar sem nenhuma dúvida: quem não gosta do Capitão América e resolver assistir sairá do cinema adorando o personagem, pois o filme é ótimo!
Os Supremos - versão Ultimate dos Vingadores, responsável pela revitalização do heróis |
O filme não é sobre um personagem, não é um show de um homem só, como é Homem de Ferro ou O Incrível Hulk. É sobre o universo Marvel, apresentando inúmeros personagens e referências. Conta com uma boa dose de humor, mas não se perde em momentos cômicos. E ainda oferece antagonistas realmente perigosos e temidos.
Superando o original Capitão América: O Primeiro Vingador, mas também se aproveitando do tempo que este tomou para construir o personagem principal, a sequência conta com muito mais ação. São várias as cenas de lutas, perseguições, tiroteios e explosões, mas quase sempre investindo no realismo e no combate corpo a corpo (mostrando que o Capitão é tão bom de porrada quanto o Batman - o uso que ele faz do escudo nunca foi tão bem elaborado nos quadrinhos). Apenas na batalha final os efeitos especiais roubam a cena, mas nada exagerado.
Esse enorme jato vai cair... |
A história se passa logo após os eventos ocorridos em Os Vingadores. O Capitão América assumiu importante posto na S.H.I.E.L.D., sendo responsável por missões nas quais suas super habilidades são fundamentais para o sucesso. Ele está sempre discordando da forma como Nick Fury mantém uma série de segredos sobre suas atividades, criticando desde o início o alto investimento em segurança e o desrespeito à privacidade dos outros e destaca que sempre lutou pela liberdade, que agora é ignorada pelos responsáveis pelo controle de inteligência. O tema não poderia ser mais atual, em um mundo de Edward Snowden, WikiLeaks e companhia. O herói conta com a ajuda da Viúva Negra (Natasha Romanoff) e do Falcão (Sam Wilson), tendo que enfrentar uma conspiração que corrompeu toda a S.H.I.E.L.D. e um vilão bem poderoso e misterioso chamado Soldado Invernal, um ciborgue fortíssimo, implacável e muito habilidoso no uso de armas.
O Falcão, grande parceiro do Capitão nas HQs em ótima versão cinematográfica |
O Soldado Invernal, em seu primeiro e impactante encontro com o Capitão |
O principal mérito do filme está em oferecer vários personagens e, ao mesmo, tempo não se perder no desenvolvimento da história. Peggy, Sharon Carter, Maria Hill, Arnim Zola e até mesmo Howard Stark são vistos em cena, mas sem diminuir o ritmo. A grande novidade no elenco é Robert Redford como Alexander Pierce, principal nome da S.H.I.E.L.D. e grande amigo de Fury, um personagem complexo e de motivação misteriosa, outro destaque é a participação de George Saint Pierre, astro do UFC, como o mercenário Batroc.
O roteiro talvez seja o mais bem desenvolvido dos filmes do universo Marvel, avançando com toda a história e não oferecendo cenas gratuitas. Como dito, o humor marca presença, principalmente na relação entre o Capitão e o Falcão, que é introduzida de forma natural. A dinâmica entre o Capitão e Viúva também é excelente, com ela surgindo quase como que uma irmã mais nova (bem mais nova, uma vez que o herói possui 95 anos).
O Capitão e sua irmãzinha... |
Não se trata de um filme apenas para os fãs dos quadrinhos, mas tem tudo para agradar quem conhece as HQs, que ficará empolgado com referências à Bruce Banner (Hulk), Stephen Strange (Doutor Estranho) e às indústrias Stark. Como de costume, também há a participação especial de Stan Lee, que surge numa ponta simpática.
O novo filme deixa o caminho preparado para Os Vingadores 2 e para Capitão América 3, apresentando duas cenas pós créditos: a primeira apresentando os próximos vilões do filme dos Vingadores (Barão Strucker, Mercúrio e a Feiticeira Escarlate) e outra, depois de passar todos os créditos, mostrando o Soldado Invernal em uma exposição sobre o Capitão América, observando justamente a parte que fala sobre Buck Barnes, o grande amigo do Capitão, que no primeiro filme morreu após cair de um trem. Essas cenas já são tradição nos filmes da Marvel e, especialmente para os fãs, trazem informações indispensáveis sobre os próximos filmes e personagens na telona. Então, fique preso na poltrona e espere passar todos os nomes, vai valer a pena.
Capitão América 2 não é apenas melhor do que Os Vingadores, é simplesmente o melhor filme de um herói da Marvel já feito até então. Tem roteiro e efeitos especiais na medida e apresenta uma versão do herói que vale a pena conhecer e gostar, além de dar o gancho para os próximos filmes da franquia. Imperdível!
Compartilhe: