Quem não se lembra do filme "Tropa de Elite 2"?!
A fantástica narrativa de José Padilha que mostrou de forma ficcional como as milícias tomaram o lugar os traficantes no comando do crime no Rio de Janeiro agradou a muita gente, principalmente na parte em que o Capitão Nascimento (Wagner Moura) enche de porrada um político corrupto que para se manter no poder não queria nem saber das consequências de se aliar aos milicianos e de usar a Secretaria de Segurança Pública para angariar votos.
Outra cena exemplar desse filme é aquela em que a equipe da Secretaria desativa as escutas no Morro do Turano após o sucesso da operação para tomada do morro (posteriormente entregue ao controle das milícias), pois a intenção era agradar a opinião pública uma vez que a eleição para governo estava próxima, então não havia justificativa para manter as escutas, nem mesmo a morte do Capitão Mathias.
Hoje em Goiás estamos vendo a ficção se tornar realidade.
A onze dias da eleição para governo a Secretaria de Segurança Pública, com toda a pompa e circunstância, numa cacetada só, anunciou a elucidação de crimes bárbaros que vinham abalando Goiás desde o ano passado: a morte de moradores de rua e o assassinato de mulheres, ambos em Goiânia.
Pode até ser verdade, que o mesmo assassino de mulheres seja quem vinha matando os moradores de rua e também que ele confessou todos os crimes, mas o que chama a atenção nesse caso é que a elucidação dos crimes se deu no mesmo dia em que Iris Rezende anunciaria em seu programa eleitoral suas propostas para a Segurança Pública, tema que vinha sendo bastante explorado até então, com grande desgaste para o governador Marconi, haja vista ser a área mais crítica de seu governo.
E aí quando lembramos do "Tropa de Elite 2" ficamos desconfiados: será que essa "resolução mágica" não seria apenas um artifício para ganhar votos, tal qual fizeram os fictícios governador e secretário de segurança no filme? Mas se for assim, o que o sujeito, réu confesso dos crimes, ganharia com isso?
Uma pequena teoria da conspiração para explicar:
- Ele vai preso e ficará em cela especial, para não ser agredido pelos outros presos, é claro;
- Obrigatoriamente ficará lá mais ou menos um mês (tempo que a polícia vai levar para checar suas declarações e álibis);
- Nesse ínterim a Secretaria de Segurança Pública apresenta o sujeito para a sociedade. O Secretário reitera a determinação do governador para a apuração dos crimes, agradece a confiança e os investimentos dele, a população fica aliviada, a eleição passa e o governador é reeleito;
- O sujeito é solto, pois não encontram provas de suas alegações, ao final ele é processado por falsa declaração de crime e, quando muito, prestará serviços sociais como pena (tempos depois é empregado por uma empreiteira ou vem trabalhar na Prefeitura de Catalão e ninguém mais lembrará dele);
- O governador reeleito tem mais quatro anos para encontrar o real criminoso, ou então, como no filme, ignorar que o verdadeiro culpado está à solta e curtir seu mandato até a próxima eleição.
Quem viver verá. Ou não, basta votar no outro candidato e acabar com esse filme agora, pois filme repetido é muito sem graça.
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