Do blog do Sakamoto:
Discursos nacionalistas empacotados e entregues em datas cívicas são tão válidos quanto uma nota de três reais. Melhor faria se o governo brasileiro, ao invés de financiar desfiles, enviasse o exército para proteger as comunidades indígenas no interior do Brasil, que estão levando um cacete de produtores rurais.
Aliás, no lugar de passarmos em revista nossas forças armadas, neste 7 de setembro, autoridades e população deveriam aproveitar a data e discutir medidas para que a cidadania deixe de ser monopólio de um pequeno grupo de abonados. Por que chamamos indígenas de intrusos, sem-teto e sem-terra de criminosos, camponeses de entraves para o desenvolvimento e trabalho escravo de efeito colateral do progresso? Por que choramos a tragédia de sírios enquanto chamamos refugiados haitianos de vagabundos por aqui?
Também poderíamos nos reunir nessa data festiva para acabar com o terrorismo de Estado – praticado durante os anos de chumbo da ditadura e aplicado diariamente nas periferias das grandes cidades para controle das “classes perigosas. Seja através da reforma das nossas polícias, seja através do ataque à impunidade de milícias, grupos de extermínio e policiais justiceiros.
Vestir-se de verde e amarelo, enrolar-se em uma bandeira e encher o carro de fitinhas não é necessariamente demonstração de amor a um país. Ao mesmo tempo, a independência de um povo passa menos por armas e tropas e mais pela ação para garantir a dignidade de quem vive no mesmo território, não importando quanto se tem no banco, a cor de pele, a religião, o sotaque, o posicionamento político, a identidade de gênero e a orientação sexual.
O melhor de tudo é que todas as vezes que alguém levanta indagações sobre o Brasil, que serve a poucos, essa pessoa é acusada de não amar o país, no melhor estilo “Brasil: ame-o ou deixe-o''.
Datas assim seriam ótimas para fomentar o conhecimento do brasileiro sobre si mesmo e, portanto, reflexão e ação. Mas me pergunto se estamos preparados para perceber que a imagem que construímos de nós mesmos é uma cascata da grossa e que somos – dos políticos, passando pelos empresários e cidadãs comuns – muito mais sujos e egoístas que acreditamos ser. E que o problema não é apenas outro, mas nós mesmos.
Eu aposto que, ao invés de irmos tomar banho, jogaríamos o espelho fora.
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