Por Francisco Mata Machado Tavares*
O pedido de impeachment da presidente Dilma foi aceito por Eduardo Cunha. De agora em adiante, a crise política deve alcançar um estágio ainda mais instável do que o já turbulento quadro atual. Um prognóstico sobre o desfecho deste cenário não deve se concentrar apenas no rito específico do processo, mas precisa direcionar o foco sobre os interesses e grupos em conflito.
Governo e PT: a força da presidente reside em dois fatores. Primeiramente, o contexto da aceitação do impeachment por um Eduardo Cunha acometido por escândalos e ameaçado de perder o mandato sinaliza para a opinião pública que a tentativa de afastar Dilma é apenas uma retaliação desesperada de um político acusado de corrupção, o que pode aumentar a empatia em relação à presidente.
O segundo elemento a favor do governo reside na possibilidade de mobilizar segmentos organizados, como sindicatos e movimentos sociais, de modo a opor-se aos esperados levantes oposicionistas na rua e nas redes sociais. As fraquezas desse setor são muitas, mas quatro merecem destaque: 1) o quadro econômico é crítico, o que provoca maior irritação na população; 2) escândalos da Lava Jato muito perto do Palácio do Planalto; 3) o PMDB, aliado fundamental dos governos petistas desde o segundo mandato de Lula, não terá interesse em lutar por Dilma, ou o fará a um preço muito alto e; 4) Dilma faz um governo neoliberal, despertando um sentimento de revolta e traição entre aqueles que acreditaram em suas promessas nas eleições de 2014.
Oposição e PSDB: a força da oposição reside, antes de tudo, na profunda insatisfação popular e na possibilidade de que as ruas voltem a ser tomadas por protestos tão numerosos como os de março e abril. Além disso, os partidos contrários ao governo apresentam, neste momento, mais eficiência e coesão em sua atuação no Congresso, em especial na Câmara, de modo que têm conseguido importantes vitórias naquele espaço, que é precisamente onde o impeachment será votado.
Por outro lado, as fissuras internas no maior partido de oposição - PSDB - marcado por interesses muito distintos entre Aécio (eleições gerais o quanto antes), Alckmin (Dilma desgastada até 2018) e Serra (Temer na Presidência, com o senador ungido a informal “homem forte”) podem comprometer a coordenação do bloco oposicionista. Ademais, escândalos de corrupção e governos impopulares (como Richa no Paraná) também têm acometido os adversários do governo.
No plano social, é possível supor que a elite econômica almeje estabilidade a qualquer custo e apoie quem indicar uma solução rápida e segura para crise, seja o governo (liquidando o impeachment e implementando os ajustes esperados por esse setor), seja a oposição (iniciando um novo governo, com legitimidade e condições para aprovar a pauta empresarial no Congresso). Quanto aos movimentos sociais e sindicatos, sua dúvida é se vale a pena defender um governo que prometeu encampar sua agenda, mas implementou medidas em sentido contrário, ou se é preferível abandonar o campo da disputa entre governo e oposição, criando novas alternativas, como fizeram seus semelhantes em outros países, ao fundarem o Podemos na Espanha e o Syriza na Grécia.
O tabuleiro está armado!
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