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Pensamentos aleatórios

10 de janeiro de 2018

Entrevista: Edward Madureira, Reitor da Universidade Federal de Goiás


O novo reitor da Universi­dade Federal de Goiás (UFG), professor Ed­ward Madureira Brasil, empossado no MEC na segunda-feira, dia 08, em entrevista concedida ao Diário da Manhã falou sobre os desafios e perspectivas para a gestão da instituição, cuja cerimônia de transmissão de cargo ocorre na próxima sexta-feira, dia 12, em Goiânia. 

Edward já ocupou o cargo entre 2006 e 2014, por dois manda­tos. Diante das restrições orçamentárias, que tiveram início em 2015, o professor alega que o de­safio é manter a universidade em funcionamento, sem perder a qualidade, já que o governo federal não tem sinalizado pos­sibilidade de aumento de verba.

No primeiro trimestre de 2015, a previsão orçamentária era de R$ 28 milhões para pagamen­to de custos. Porém, com o cor­te de gastos, através de decre­to baixado pelo governo federal, o valor repassado foi de apenas R$ 19 milhões, que representa um déficit de 33%. Desde então, a instituição passou a sofrer com atrasos das contas de água, luz, telefone, salário dos funcioná­rios terceirizados e repasses de bolsas de incentivo à pesquisa e extensão universitária.

“O cenário de agora é diferen­te, nós vamos ter que lutar para ter um orçamento que dê para manter a universidade. O governo não sinaliza perspectiva de cres­cimento. Com a restrição coloca­da pelo regime fiscal, que limi­ta os gastos do Executivo, a gente não vê perspectiva de crescimen­to. Com um orçamento reduzido que não dá para fazer a manuten­ção da universidade, nós vamos ter que fazer a universidade con­tinuar funcionando sem perder a qualidade”, planeja o futuro reitor.

Sobre a segurança nas depen­dências do câmpus, que foi ques­tionada sobretudo após o assas­sinato de um estudante durante uma festa universitária, o reitor disse que vai prosseguir implementando as políticas de se­gurança desenvolvidas pelo últi­mo reitor, o professor Orlando Sil­va do Amaral. “No mandato do professor Orlando, foi constituí­da uma comissão de especialistas das mais diferentes áreas para um diagnóstico e proposição de uma política de segurança na univer­sidade. Esse diagnóstico estava sendo desenvolvido muito antes desses incidentes lamentáveis”, comentou Edward.

Dentre as medidas de segu­rança previstas, estão melhorias na iluminação interna, contro­le de acesso às dependências do câmpus, campanhas educativas e até a o relacionamento da UFG com órgãos de segurança pública, que o professor qualificou como “uma questão delicada”. A me­dida é fruto de críticas porque prevê a atuação da Polícia Militar nas dependências do local. Inte­grantes do movimento estudan­til alegam que a presença da PM não será solução para o proble­ma e que poderá gerar ainda mais conflitos e mortes. Esses estudan­tes defendem a criação de uma Guarda Universitária e um siste­ma de segurança universitário.

Outro problema apontado pelo gestor é a insuficiência de técnicos­-administrativos. Para ele, o quadro de professores atualmente é satisfa­tório, mas falta pessoal na área téc­nica-administrativa.

O principal lema da campanha para reitoria de Edward Madureira foi o estreitamento das relações en­tre a universidade e a sociedade. O gestor afirma que vai investir nas re­lações com setores fora da institui­ção, seja público ou privado. Ainda na gestão de Orlando, a UFG assu­miu a elaboração do plano diretor da Região Metropolitana de Goiâ­nia, que foi entregue em dezem­bro. “O serviço de zoneamento eco­lógico de todo o Estado e o plano de saneamento básico também serão feitos pela UFG e estamos em dis­cussão com a Saneago a proposta de um diagnóstico de revitalização do Meia Ponte”, afirma Madureira.


ENTREVISTA:

Nas suas últimas gestões (2006- 2014), a UFG passava por um momento bastante diferente do atual, principalmente no quesito financeiro. O que vai mudar nessa próxima gestão, frente a esses novos desafios?

Administrar a universidade em qualquer circunstância é extre­mamente desafiador. Com poucos recursos não é fácil também por­que se você não tiver uma equi­pe que vai conseguir fazer uma execução orçamentária bem fei­ta, você não consegue avançar. Na época [que foi reitor da UFG] coloquei a UFG entre as univer­sidades que mais avançaram no ponto de vista de qualquer as­pecto que a gente possa avaliar.

Nós vamos buscar alternativas. A primeira delas, é claro, sensibi­lizar o próprio governo porque ele precisa entender o papel que a universidade tem no desenvolvi­mento. A ideia é criar uma grande frente em defesa das universida­des para que a gente tenha uma excepcionalização pelo menos da educação e tecnologia diante des­se incentivo fiscal que estrangula o setor público brasileiro.

É preciso colocar também que o crescimento que a universida­de teve não foi só quantitativo, mas foi qualitativo. Hoje a gen­te tem cerca de 2.500 professores. Naquela época tínhamos 1100. Hoje temos 200 doutores e mais de 500 mestres entre os técnicos administrativos. Essa força de trabalho está pronta para dar uma resposta à sociedade.

A segurança no câmpus tem sido um dos problemas mais levantados pela comunidade universitária. Como você pretende lidar com esse problema no câmpus? E o tráfico de drogas?

No mandato do professor Or­lando foi constituída uma co­missão de especialistas das mais diferentes áreas para um diag­nóstico e uma proposição de uma política de segurança na univer­sidade. Esse diagnóstico ficou pronto e estava sendo desenvol­vido muito antes dos incidentes lamentáveis, como a morte da­quele estudante e outras coisas desagradáveis. Esse processo fi­cou pronto e já no mandato do professor Orlando ele vem sen­do implementado de maneira bastante eficaz.

Melhoria da iluminação, con­trole de acesso, campanhas edu­cativas e até a questão sempre mais delicada de relacionamento da universidade com os órgãos de segurança. É sabido da pre­sença de traficantes dentro da universidade e esse tratamento tem que ser feito junto com os órgãos de segurança.

Que outras fragilidades você enxerga na universidade nesse momento, além da segurança e questão financeira?

A gente tem um quadro de pro­fessores razoável, compatível com nosso tamanho, mas o quadro de técnicos está aquém das nossas necessidades. Assim como algu­mas outras questões internas, es­tamos criando estruturas especí­ficas para tratar desse assunto.

A área de Tecnologia da Infor­mação (TI) vai crescer com uma atenção especial. Estamos crian­do uma secretaria para cuidar especificamente da TI, reunindo os órgãos, que já existiam, nessa secretaria, que vai pensar uma política de informática para a universidade com objetivo de agi­lizar os nossos processos.

Como você avalia a última gestão?

O professor Orlando conseguiu fazer uma travessia que talvez outro não conseguiria. A univer­sidade estava crescendo, expan­dindo, com as pessoas cheias de expectativa e de repente a gente tem uma inflexão, uma parali­sação de várias políticas do go­verno federal. Houve um contin­genciamento da universidade junto ao MEC e coube ao profes­sor Orlando não deixar a uni­versidade parar. Ela continuou crescendo, estamos numa situa­ção em que praticamente nenhu­ma obra está paralisada, tal­vez tenhamos uma ou duas, mas ele garantiu a continuidade da maior obra da história da UFG que é o Hospital das Clínicas, que deve ficar pronta esse ano.

Como ficará a situação das regionais de Jataí e Catalão, que se tornarão universidades autônomas?

Acredito que esse ano vai ser implementada a lei que transfor­ma esses câmpus em universida­de. Acredito que ano que vem, no máximo, nós já teremos as duas universidades desmembradas da UFG e já em funcionamen­to como unidades autônomas. Agora eles vão viver um novo momento, num diálogo direto com o MEC. Hoje esse diálogo é intermediado pela Reitoria.

Não terão mudanças substanciais em termos de orçamento, a UFG já considerava como unidades autônomas. O orçamento já era dividido proporcionalmente com as regionais. Eles vão receber um quantitativo de técnicos-administrativo e vão receber as funções para os cargos de confiança e que recebem gratificações, como reitor, vice-reitor, pró-reitor, diretor de órgão ou unidade etc.

Como as eleições estaduais e federais de 2018 podem impactar na realidade da UFG?

É muito difícil fazer qualquer previsão nesse cenário tão incerto do quadro das eleições de 2018. É claro que a Universidade depen­de decisivamente do presidente da República e do ministro da Educação, mas as universida­de federais hoje têm um papel muito grande na sociedade e a gente acredita que nós enquan­to instituições por intermédio da nossa associação apresentare­mos a nossa pauta, proposta de financiamento.

Esperamos sensibilizar o fu­turo dirigente da nação em re­lação ao papel que as universi­dades desempenham. Claro que temos apreensão com relação a isso, mas a gente também sabe do potencial que as universidades têm para contribuir para o desen­volvimento do País e como essas instituições são por natureza su­prapartidárias, elas conseguem dialogar com qualquer governo.

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