O novo reitor da Universidade Federal de Goiás (UFG), professor Edward Madureira Brasil, empossado no MEC na segunda-feira, dia 08, em entrevista concedida ao Diário da Manhã falou sobre os desafios e perspectivas para a gestão da instituição, cuja cerimônia de transmissão de cargo ocorre na próxima sexta-feira, dia 12, em Goiânia.
Edward já ocupou o cargo entre 2006 e 2014, por dois mandatos. Diante das restrições orçamentárias, que tiveram início em 2015, o professor alega que o desafio é manter a universidade em funcionamento, sem perder a qualidade, já que o governo federal não tem sinalizado possibilidade de aumento de verba.
No primeiro trimestre de 2015, a previsão orçamentária era de R$ 28 milhões para pagamento de custos. Porém, com o corte de gastos, através de decreto baixado pelo governo federal, o valor repassado foi de apenas R$ 19 milhões, que representa um déficit de 33%. Desde então, a instituição passou a sofrer com atrasos das contas de água, luz, telefone, salário dos funcionários terceirizados e repasses de bolsas de incentivo à pesquisa e extensão universitária.
“O cenário de agora é diferente, nós vamos ter que lutar para ter um orçamento que dê para manter a universidade. O governo não sinaliza perspectiva de crescimento. Com a restrição colocada pelo regime fiscal, que limita os gastos do Executivo, a gente não vê perspectiva de crescimento. Com um orçamento reduzido que não dá para fazer a manutenção da universidade, nós vamos ter que fazer a universidade continuar funcionando sem perder a qualidade”, planeja o futuro reitor.
Sobre a segurança nas dependências do câmpus, que foi questionada sobretudo após o assassinato de um estudante durante uma festa universitária, o reitor disse que vai prosseguir implementando as políticas de segurança desenvolvidas pelo último reitor, o professor Orlando Silva do Amaral. “No mandato do professor Orlando, foi constituída uma comissão de especialistas das mais diferentes áreas para um diagnóstico e proposição de uma política de segurança na universidade. Esse diagnóstico estava sendo desenvolvido muito antes desses incidentes lamentáveis”, comentou Edward.
Dentre as medidas de segurança previstas, estão melhorias na iluminação interna, controle de acesso às dependências do câmpus, campanhas educativas e até a o relacionamento da UFG com órgãos de segurança pública, que o professor qualificou como “uma questão delicada”. A medida é fruto de críticas porque prevê a atuação da Polícia Militar nas dependências do local. Integrantes do movimento estudantil alegam que a presença da PM não será solução para o problema e que poderá gerar ainda mais conflitos e mortes. Esses estudantes defendem a criação de uma Guarda Universitária e um sistema de segurança universitário.
Outro problema apontado pelo gestor é a insuficiência de técnicos-administrativos. Para ele, o quadro de professores atualmente é satisfatório, mas falta pessoal na área técnica-administrativa.
O principal lema da campanha para reitoria de Edward Madureira foi o estreitamento das relações entre a universidade e a sociedade. O gestor afirma que vai investir nas relações com setores fora da instituição, seja público ou privado. Ainda na gestão de Orlando, a UFG assumiu a elaboração do plano diretor da Região Metropolitana de Goiânia, que foi entregue em dezembro. “O serviço de zoneamento ecológico de todo o Estado e o plano de saneamento básico também serão feitos pela UFG e estamos em discussão com a Saneago a proposta de um diagnóstico de revitalização do Meia Ponte”, afirma Madureira.
ENTREVISTA:
Nas suas últimas gestões (2006- 2014), a UFG passava por um momento bastante diferente do atual, principalmente no quesito financeiro. O que vai mudar nessa próxima gestão, frente a esses novos desafios?
Administrar a universidade em qualquer circunstância é extremamente desafiador. Com poucos recursos não é fácil também porque se você não tiver uma equipe que vai conseguir fazer uma execução orçamentária bem feita, você não consegue avançar. Na época [que foi reitor da UFG] coloquei a UFG entre as universidades que mais avançaram no ponto de vista de qualquer aspecto que a gente possa avaliar.
Nós vamos buscar alternativas. A primeira delas, é claro, sensibilizar o próprio governo porque ele precisa entender o papel que a universidade tem no desenvolvimento. A ideia é criar uma grande frente em defesa das universidades para que a gente tenha uma excepcionalização pelo menos da educação e tecnologia diante desse incentivo fiscal que estrangula o setor público brasileiro.
É preciso colocar também que o crescimento que a universidade teve não foi só quantitativo, mas foi qualitativo. Hoje a gente tem cerca de 2.500 professores. Naquela época tínhamos 1100. Hoje temos 200 doutores e mais de 500 mestres entre os técnicos administrativos. Essa força de trabalho está pronta para dar uma resposta à sociedade.
A segurança no câmpus tem sido um dos problemas mais levantados pela comunidade universitária. Como você pretende lidar com esse problema no câmpus? E o tráfico de drogas?
No mandato do professor Orlando foi constituída uma comissão de especialistas das mais diferentes áreas para um diagnóstico e uma proposição de uma política de segurança na universidade. Esse diagnóstico ficou pronto e estava sendo desenvolvido muito antes dos incidentes lamentáveis, como a morte daquele estudante e outras coisas desagradáveis. Esse processo ficou pronto e já no mandato do professor Orlando ele vem sendo implementado de maneira bastante eficaz.
Melhoria da iluminação, controle de acesso, campanhas educativas e até a questão sempre mais delicada de relacionamento da universidade com os órgãos de segurança. É sabido da presença de traficantes dentro da universidade e esse tratamento tem que ser feito junto com os órgãos de segurança.
Que outras fragilidades você enxerga na universidade nesse momento, além da segurança e questão financeira?
A gente tem um quadro de professores razoável, compatível com nosso tamanho, mas o quadro de técnicos está aquém das nossas necessidades. Assim como algumas outras questões internas, estamos criando estruturas específicas para tratar desse assunto.
A área de Tecnologia da Informação (TI) vai crescer com uma atenção especial. Estamos criando uma secretaria para cuidar especificamente da TI, reunindo os órgãos, que já existiam, nessa secretaria, que vai pensar uma política de informática para a universidade com objetivo de agilizar os nossos processos.
Como você avalia a última gestão?
O professor Orlando conseguiu fazer uma travessia que talvez outro não conseguiria. A universidade estava crescendo, expandindo, com as pessoas cheias de expectativa e de repente a gente tem uma inflexão, uma paralisação de várias políticas do governo federal. Houve um contingenciamento da universidade junto ao MEC e coube ao professor Orlando não deixar a universidade parar. Ela continuou crescendo, estamos numa situação em que praticamente nenhuma obra está paralisada, talvez tenhamos uma ou duas, mas ele garantiu a continuidade da maior obra da história da UFG que é o Hospital das Clínicas, que deve ficar pronta esse ano.
Como ficará a situação das regionais de Jataí e Catalão, que se tornarão universidades autônomas?
Acredito que esse ano vai ser implementada a lei que transforma esses câmpus em universidade. Acredito que ano que vem, no máximo, nós já teremos as duas universidades desmembradas da UFG e já em funcionamento como unidades autônomas. Agora eles vão viver um novo momento, num diálogo direto com o MEC. Hoje esse diálogo é intermediado pela Reitoria.
Não terão mudanças substanciais em termos de orçamento, a UFG já considerava como unidades autônomas. O orçamento já era dividido proporcionalmente com as regionais. Eles vão receber um quantitativo de técnicos-administrativo e vão receber as funções para os cargos de confiança e que recebem gratificações, como reitor, vice-reitor, pró-reitor, diretor de órgão ou unidade etc.
Como as eleições estaduais e federais de 2018 podem impactar na realidade da UFG?
É muito difícil fazer qualquer previsão nesse cenário tão incerto do quadro das eleições de 2018. É claro que a Universidade depende decisivamente do presidente da República e do ministro da Educação, mas as universidade federais hoje têm um papel muito grande na sociedade e a gente acredita que nós enquanto instituições por intermédio da nossa associação apresentaremos a nossa pauta, proposta de financiamento.
Esperamos sensibilizar o futuro dirigente da nação em relação ao papel que as universidades desempenham. Claro que temos apreensão com relação a isso, mas a gente também sabe do potencial que as universidades têm para contribuir para o desenvolvimento do País e como essas instituições são por natureza suprapartidárias, elas conseguem dialogar com qualquer governo.
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