Quando acabou a luta de Anderson Silva x Chris Weidman eu pude perceber que esse o esporte pegou o povo brasileiro de vez. A decepção e a raiva que atingiram foram semelhantes quando a seleção perde em uma decisão importante.
Já fiquei (muito) puto. Já fiquei triste. Já tive diversas reações que nem eu mesmo sei descrever. “Bem feito” e “palhaço” foi tudo que eu conseguia dizer depois da luta. Agora, com calma, vamos tentar falar sobre ela.
Anderson brincou? Brincou. Mas como ele sempre fez. O problema foi não ter parado de brincar na hora que deveria. E, principalmente, o problema foi finalmente ter encontrado um adversário extremamente focado. Duvido que ele teria desmerecido tanto Jon Jones, St. Pierre ou até Vitor Belfort.
Falando sobre Weidman, ele tem diversas qualidades. O cara é realmente bom. Mas seu maior mérito foi entrar totalmente focado.
As brincadeiras e demonstrações de irresponsabilidade de Anderson, são, na verdade, iscas para fisgar o seu adversário. Anderson Silva tenta incitar o seu oponente para fazê-lo cometer algum erro. É correto? Sim. É antiético? Não sei. A linha que difere o correto e o anti-ético é muito tênue nesse caso. Anderson já havia sido questionado sobre isso outras vezes, principalmente após enfrentar Demian Maia. Enquanto estava dando certo, todo mundo achava lindo, agora que ele perdeu, é um babaca completo?
Deixando essa questão subjetiva de lado e falando sobre a luta, Anderson encontrou um rival que não estava nem aí para as suas brincadeiras. O olho de Weidman estava sempre na mira correta – o peito do adversário – nunca observando as mãos incitando um golpe mais forte ou o rosto debochado do brasileiro.
Geralmente, quando o Spider começa a fazer suas esquivas e pêndulos fenomenais, ou ele faz parado, sem a necessidade de recuar, ou o adversário não insiste, com medo de receber um contragolpe. Weidman insistiu. Ele acertou o primeiro cruzado, que Anderson fingiu não ter sido forte suficiente para se preocupar. Ele tentou outro, Anderson esquivou. Deu um jab, Anderson fugiu defensivamente, continuou com a guarda baixa (PORRA ANDERSON, CUSTAVA LEVANTAR A MERDA DO BRAÇO?) e tomou o golpe derradeiro.
Acabou. Caiu o ídolo irresponsável, que quando vencia as pessoas achavam fenomenal. Agora que perdeu virou um merda? O que ele fez contra Bonnar foi tão ou mais irresponsável. Mas, enquanto vencia, as pessoas achavam espetacular.
Temos que ficar nervosos com Anderson? Sim. Evidente. Ele é um dos maiores ídolos brasileiros da atualidade e agiu com soberba e irresponsabilidade. Mas, vamos com calma. O cara continua sendo o maior de todos os tempos. Não sejamos tão cruéis.
O que Anderson Silva fez para o MMA um lutador não fará tão cedo. Mesmo que ele nem recupere o seu cinturão, não devemos desmerecer o mito brasileiro. Ele é o maior de todos os tempos e não se fala mais nisso.
Uma coisa positiva que podemos encarar nessa situação toda é que, finalmente, veremos Anderson Silva entrar 100% motivado para uma luta, algo que a gente só imaginaria acontecer em uma superluta (contra Jon Jones ou St. Pierre). A revanche, mesmo que não confirmada pelo brasileiro, acontecerá e continuaremos torcendo por Anderson.
Essa foi uma das duas maiores zebras da história do UFC. Weidman se une a Matt Serra como os caras que superaram duas das maiores feras da história do esporte.
O modo de esquivar e pendular de Anderson lembram muito Mike Tyson. Contudo, o seu jeito provocador lembra mais Muhammed Ali. E, bem, Muhammed Ali também foi derrotado outras vezes e a história continua nos dizendo que ele foi um dos maiores. Certamente a história também será generosa com Anderson Silva.
O esporte é assim: ninguém é imbatível. Agora, é esquecer esse UFC 162. De 6 brasileiros no card, apenas Gabriel Napão se deu bem contra um estrangeiro. Edson Barboza também ganhou, mas do brasileiro Rafaello Oliveira.
No card principal, Roger Gracie perdeu na sua estreia, lutando nitidamente em uma categoria errada. Charles do Bronx foi superado Frankie Edgar, mas fez uma bela luta e ganhou a bonificação de melhor combate da noite.