Desde
o anúncio, na semana passada, da transformação do Campus da UFG Catalão
em universidade federal autônoma, um debate domina o meio político da
cidade: afinal, quem é o "pai", o "dono", o "maior responsável" dessa
importantíssima conquista para Catalão e toda a região sudeste de
Goiás?
Vários
atores da vida política local reclamam para si a paternidade desse
feito, a despeito de qualquer relação mais (ou menos) harmoniosa com a
universidade em tempos passados. Alguns pleitos de paternidade são
repercutidos pela mídia da capital, em analises rasas que consideram
apenas o cenário político atual, repetindo a informação equivocada que
está sendo criada do zero uma nova universidade, ignorando que há 32
anos a UFG é a maior responsável pela formação superior na região
sudeste de Goiás (claro que tal entendimento é proposital e serve a
interesses específicos, não compensando gastar nosso português com quem
repete esse mantra ridículo, por isso não mencionarei mais tal bazófia
aqui).
A
verdade é que é muito difícil, haja vista os variados argumentos,
apontar quem é o maior responsável no meio político por esse feito, mas
justamente por ser membro efetivo da comunidade acadêmica de Catalão,
tendo me formado e pós-graduado pela UFG e há anos acompanhar de perto o
debate interno sobre a necessidade de aumento da autonomia
administrativa e financeira do Campus Catalão, é que resolvi
compartilhar com os leitores do blog minhas dúvidas sobre os méritos de
paternidade da Universidade Federal de Catalão (UFCat), de acordo com as
contribuições de cada ator envolvido nesse processo. Assim, o pai da
UFCat é:
Haley Margon:
enquanto prefeito, há 32 anos atrás, Haley fez um convênio com a UFG
para trazer cursos superiores para formação de professores, fazendo a
Prefeitura arcar com pagamento de salários e estrutura física para as
aulas. Mesmo depois de terminar seu mandato manteve relação próxima com a
universidade, até mesmo doando terrenos de seu patrimônio particular
para ampliação do campus (a área 2 do Campus Catalão, futura sede do
curso de Medicina, foi construída em um desses terrenos), sendo
homenageado pela UFG com o título de Mérito Universitário pelos
importantes serviços prestados a Universidade. Sem o pioneirismo de
Haley não existiria campus da UFG em Catalão e sequer o sonho de uma
universidade autônoma;
José Henrique Stacciarini:
de todos os professores da UFG Catalão, José Henrique, do curso de
Geografia, sem dúvida foi a voz mais contundente a defender a
emancipação do campus e sua transformação em universidade autônoma.
Sempre se manifestando nesse sentido através de artigos de opinião,
trabalhos acadêmicos ou mesmos faixas afixadas na entrada do campus,
José Henrique nunca mudou seu discurso, nem mesmo quando os ventos
políticos eram desfavoráveis e um recuo estratégico seria salutar. Por
isso o reconhecimento de toda a comunidade acadêmica;
Adib Elias:
por manter o convênio da Prefeitura com a UFG, arcando com o pagamento
integral dos salários dos professores após o Governo de Goiás romper com
sua parte e deixar de repassar o valor equivalente a metade da folha de
pagamento dos docentes conveniados (posteriormente convertido na
Biblioteca e Auditório do Campus), isso em uma época em que eram
pouquíssimos os professores do quadro federal efetivos em Catalão e a
dependência da Prefeitura era gigantesca;
Manoel Chaves: depois
de ser Diretor por dois mandatos se tornou Vice-Reitor da UFG e colocou
os campus do interior em evidência, chamando a atenção para a
capacidade administrativa, de articulação política e de produção
acadêmica não só do Campus Catalão, mas também de Jataí;
Eu: sim,
eu mesmo, este blogueiro que vos escreve, sou também um dos pais da
Universidade Federal de Catalão (UFCat), pois participei, em 2010, de
uma comissão coordenada pelo professor Claudio Maia, do curso de
História, que elaborou o primeiro projeto sistemático para a
transformação do Campus Catalão em uma universidade federal autônoma.
Também fizeram parte desta comissão os professores Élida Alves
(Matemática), Idelvone Mendes (Geografia), Luiz Carlos do Carmo
(História), Marcelo Stoppa (Matemática Industrial), Maria Rita de Cássia
Santos (Química), Rodrigo Delalibera (Engenharia Civil), Vagner Rosalem (Administração), Zenon
(Biologia), a técnica Ana Paula Neiva e o estudante Sérgio Idalino, que
levaram o projeto da Universidade Federal do Cerrado (UFCerr) às mãos do
presidente Luis Inácio Lula da Silva, que prontamente o encaminhou à
avaliação do Ministro da Educação, Fernando Haddad, que achava mais
vantagem investir no sistema multicampus do que na criação de novas
universidades, o que levou o projeto a não ter a devida atenção. Nessa
empreitada também merecem destaque o deputado federal Rubens Otoni e o
prefeito Velomar Rios, sendo a articulação política de ambos fundamental
para a chegada do projeto às mãos do Presidente (o que oficializou,
pela primeira vez, o desejo de independência do Campus Catalão);
Edward Madureira:
a articulação política de Edward, que durante seus dois mandatos de
Reitor, foi responsável por emendas orçamentárias, obras, pessoal
docente e técnico, que permitiram o enorme crescimento da UFG durante o
Reuni (Programa de Reestruturação das Universidades Federais), fazendo o
Campus Catalão triplicar de tamanho e oferta de cursos. É também de
Edward o maior mérito pela vinda do curso de Medicina, que mesmo sem ainda ter
começado, alçou o campus em outro patamar de importância;
Orlando Amaral:
o atual Reitor da UFG merece o mérito por não ter criado empecilhos à
separação dos campus de Catalão e Jataí, afinal vai entregar uma UFG
menor do que recebeu e nem mesmo assim usou de sua influência e
prestígio para atrapalhar o processo;
Gustavo Sebba: mesmo
sem nunca ter pisado no Campus Catalão, o deputado estadual pleiteia a
paternidade do UFCat por ser aliado do Governo de Goiás e ter feito uma
emenda orçamentária no valor de 3 milhões de reais em verbas estaduais
para ajudar na consolidação do curso de Medicina (que se foram realmente
aplicados, como no caso da construção do Auditório e da Biblioteca, e
não ficarem só na conversa, como os 3 milhões da reforma do Ginásio
Internacional) serão importantes no início das atividades do curso,
principalmente levando em conta o atual cenário de cortes orçamentários
do Governo Federal;
Jardel Sebba:
está no lugar certo, na hora certa. Mesmo fazendo uma gestão
fracassada, sem dinheiro para trocar lâmpadas ou pagar fornecedores em
dia, ninguém pode negar que o prefeito de Catalão assinou todos os
protocolos necessários para a vinda do curso de Medicina e para a
renovação do convênio entre Prefeitura e UFG. Mesmos que tais atos
fossem feitos até mesmo pelo Bozó, se ele fosse o prefeito, é Jardel
quem está na cadeira e irá colher parte dos méritos das duas melhores
notícias dos últimos 30 anos para Catalão e região;
Marconi Perillo:
o Governador de Goiás mais uma vez mostra que é mestre em fazer graça
com o chapéu alheio, atribuindo a criação de duas universidades federais
à sua capacidade de articulação política, mesmo deixando a Universidade
Estadual de Goiás (essa sim, de sua competência) acabar à míngua.
Aparece agora, graças a tendenciosa grande mídia da capital, como o
principal responsável pelo atendimento dos pleitos históricos de
emancipação dos Campus Catalão e Jataí. Inegavelmente tem seu mérito,
pois foi permitido a ele dar em primeira mão a notícia (sabe-se lá em
troca do quê), mas no caso de Catalão sua maior contribuição foi
construir a Biblioteca e o Anfiteatro (obras inegavelmente importantes,
diga-se), mas parando de repassar a parte que cabia ao Estado no
pagamento do salário dos professores conveniados. Uma aposta
irresponsável, que Marconi ganhou no final, mas arriscou provocar o fim
do Campus Catalão, caso a Prefeitura não conseguisse manter sozinha o
convênio, e sem Campus não haveria sequer possibilidade de nova
universidade...
Enfim,
apresentados os pretensos pais, e as justificativas de cada um para
receber os méritos da paternidade, eu fico em dúvida em quem tem mais
razão no seu pleito, de quem seria o mais digno de, acima de todo o
esforço coletivo ao longo dos tempos, merecer todos os louvores e
glórias de escrever o seu nome na certidão de nascimento de tão
importante acontecimento na história de Catalão e região. Mas de uma
coisa eu tenho convicção: se não dá para saber quem é o pai da UFCat,
com certeza sabemos quem é a mãe, e esta, sem estardalhaço e sem fazer
graça com o chapéu de ninguém além do dela estará em Catalão no próximo
dia 19 para anunciar oficialmente a boa nova à população da região
sudeste de Goiás, e que seja muito bem vinda, Presidenta Dilma Roussef, Mãe da Universidade Federal de Catalão.
E
o pai?! O pai não interessa, na atual conjuntura o poder está na
maternidade e o pai, quando presta, só serve para pagar pensão.
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