A Câmara Federal vai decidir novas regras para o nosso sistema político.
Essa agenda é a mesma do Chile. Em abril, a presidente Michele
Bachelet, apresentou ao Congresso o fim do financiamento empresarial,
limite de doação para pessoas físicas, redução de gastos de campanha e
reorganização dos partidos. No Chile, assim como no Brasil, essas
propostas emergem em meio a escândalos de corrupção e instabilidade
política.
O financiamento empresarial da política e a corrupção
caminham juntos. Essa é a percepção da sociedade civil, encabeçada por
CNBB, OAB, UNE e a CUT, que lutam pela proibição do financiamento
empresarial de partidos e candidatos.
A promiscuidade entre o setor público e as empresas privadas tem sua
origem nas campanhas eleitorais. O financiamento empresarial, além de
estabelecer laços suspeitos entre financiadores e eleitos, limita o
acesso dos que têm menor poder econômico, aumentando a distância entre
os representantes e a sociedade. Sequestra uma das regras básicas da
democracia – igualdade na disputa eleitoral – e corrói a transparência
dos partidos.
A nossa democracia não pode depender do dinheiro de bancos, empreiteiras
e outras empresas. Não há democracia digna que possa nascer desse
sistema. Os aportes empresariais nas eleições brasileiras representam
mais de 90% do que os partidos arrecadam; em 2014 ultrapassaram R$ 5
bilhões. Uma única empresa doou R$360 milhões! Se os parlamentares não
mudarem radicalmente esse modelo não serão eliminadas as causas da
corrupção que desvia recursos públicos que deviam ser investidos para
melhorar a qualidade da saúde, da educação e da segurança.
A grave crise do sistema político exige posição clara. A reforma
política deve enfrentar o mal pela raiz: proibir o financiamento
empresarial de partidos e candidatos. Soaria estranho à sociedade que os
congressistas não ponham fim a uma regra que favorece suas próprias
eleições. Com campanhas mais baratas e representantes eleitos por
compromissos e ideias e não por dinheiro, teremos uma democracia e uma
República melhores para o Brasil.
Por Miguel Rosseto, no site Carta Maior.
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