Se no início do ano alguém perguntasse a qualquer jardelista se a participação do Rodrigão na chapa do PSDB foi importante para a vitória de Jardel, certamente ouviria como resposta algo parecido:
- Demais! Rodrigão aproximou Jardel de povão!
- Importantíssimo! Rodrigão foi fundamental para a vitória do Jardel!
- Sem dúvida! Jardel acertou demais na escolha do vice!
- Rodrigão é o cara! A estrela em ascensão do PSDB goiano!
Se a pergunta for feita hoje:
- Tá louco?! Jardel ganharia de todo jeito!
- Que bobagem! Jardel deu foi sorte do Rodrigão não afundar a campanha!
- Rodrigão?! Jardel demorou demais para manda-lo embora!
- Aquele bobão?! Cara mais sem noção, político inábil e atrapalhado, já vai tarde!
O que mudou de lá para cá? Porque o parceirão de repente não serve mais, nem para subir no mesmo palanque? O que poderia ter abalado tanto a relação dos dois companheiros?
É verdade que Jardel sempre viu o potencial eleitoral de Rodrigão e investiu nele desde o início, trazendo-o para o PSDB e criando uma figura dialética (sindicalista-tucano) que recebia o voto dos trabalhadores que, afinal, não ligam muito para ideologia mesmo e também o de outras classes, que viam nele uma "deselitização" do PSDB catalano. É claro que Jardel conhecia o potencial de Rodrigão e também suas limitações, daí que o enxergava ele mais como uma ferramenta do que como um aliado, sendo fato também que Rodrigão nunca foi plenamente aceito pelas famílias abastadas que historicamente apoiam Jardel (Paranhos, Netto e Fava), mas teve que ser engolido, já que se não fosse o vice era bem capaz de abandonar o navio e subir no palanque do PMDB (algo temerário).
Seu estilo peculiar de fazer política, falando errado, criando factoides e atropelando o português e os adversários, nunca agradou aos endinheirados, mas se eles tinham o dinheiro Rodrigão tinha os votos, ou ao menos a simpatia dos trabalhadores da MMC e a força do SIMECAT, algo que não poderia ser desprezado ou correr o risco de cair no colo do adversário.
Mas se Rodrigão precisou ser engolido como vice, os endinheirados já deixaram claro para Jardel que vice-prefeito é uma coisa, apoiá-lo para deputado era outra, e que eles não estavam com nenhuma disposição para faze-lo e caso Jardel insistisse seria sem o apoio deles. E Jardel, como não é bobo nem nada, tratou de atender os companheiros de grana (e de longa data), mas sem pressa e da forma que ele sabe fazer melhor: dando corda para o sujeito se enforcar!
Nomeou Rodrigão secretário da pasta mais importante e mais vista da gestão municipal, a da Infraestrutura. Cheia de problemas e responsável por toda obra física no município, desde asfalto, calçadas, reformas, iluminação e limpeza urbana, a Secretaria é uma bomba onde todo mundo dá palpite e quer o serviço prestado, portanto, para tocar essa pasta o responsável teria que ser alguém com experiência e que conhecesse, nem que seja um pouco, de engenharia e obras públicas, algo que Rodrigão só conhece dos requerimentos que fez enquanto vereador. Logo, a pasta mais vista também é a mais criticada e o estilo sindicalista de criar factoides e adular os trabalhadores com pequenos mimos (no caso, festas e uma pinguinha no gabinete) foi rendendo desgastes, com destaque para o acidente com a caminhonete no primeiro mês de mandato, o choro na demissão dos funcionários contratados pela Captura RH e a incompetência em lidar com a Corpus, que fez seis greves em menos de oito meses de gestão, sob o completo silêncio do secretário. Ao desgaste como secretário somou-se o de diretor futebolístico, que amargou a incompetência em atrair investimentos privados ao CRAC e virou chacota nacional expondo o time ao ridículo ao oferecer peixe frito e pinga (ela de novo) no jogo contra o Santos pela Copa do Brasil. O nó da corda já estava apertando o pescoço quando o golpe de misericórdia veio via Jornal Opção, que noticiou o encontro de Rodrigão com Adib Elias, ocorrido em Goiânia. Aí não teve jeito: Rodrigão rodou!
O fato é que a saída de Rodrigão já era prevista e cantada. As elites que apoiam Jardel nunca engoliram a pressão dele para ser o vice e a festa de lançamento de sua candidatura antes da do prefeito terminou de zangar o sabão. E Rodrigão sabia disso tudo, mas preferiu peitar o fogo amigo a tentar se entender com os desafetos ricos e o resultado foi a demissão da Secretaria, o corte de todos os seus indicados na Prefeitura (ao menos daqueles que não pularam do barco) e a completa inviabilização de sua candidatura a deputado, pois se filiar-se a outro partido e tentar a candidatura em uma base adversária estará queimado em Catalão antes mesmo que possa subir no palanque, já que toda a tropa de elite que antes se derretia por sua espontaneidade vão apontar todos os seus defeitos, seja como político ou como pessoa, e os perfis fake nas redes sociais, que publicaram podres incríveis sobre sua atuação sindical, voltarão com tudo.
Para Jardel a saída de Rodrigão é um desgaste menor do que mante-lo na gestão. Mesmo ficando com um vice adversário (algo recorrente na história catalana) não faltam opções para substituí-lo, como próximo vice ou candidato a deputado, que agradem à base e aos endinheirados (Cesar, Marcelo Mendonça, Ana Sebba e outros), já para Rodrigão afastar-se definitivamente de Jardel e peitar uma candidatura a deputado pode representar o fim precoce de sua carreira política, pois se há algo que o jogo político ensina é que companheiro é companheiro, desde que esteja com a caneta na mão e possa nomear os aliados, e isso Rodrigão não tem mais.
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