Por Leonardo Sakamoto
Consumada a deposição do governo Dilma Rousseff, resta uma única coisa a ser feita para que nosso sistema político não se torne uma piada completa entre o resto do mundo livre: eleições diretas para a Presidência da República.
Sob qualquer ponto de vista que considere um mínimo de ética no trato com a coisa pública, Michel Temer não tem condições para exercer o mandato.
Sendo ele companheiro de chapa e tendo dado anuência aos mesmos malabarismos fiscais pelos quais Dilma foi condenada, deveria, portanto, ter o mesmo destino que a ex-mandatária. Isso sem contar as acusações que pesam contra ele e seu gabinete na Lava Jato, colocando em suspeita seu real apoio à continuidade da operação e a investigação a integrantes de outros campos políticos.
Mas, principalmente, as tungadas propostas pelo governo Michel Temer nos direitos trabalhistas previdenciários, além da criação de um teto limitando gastos públicos são alterações tão profundas no Estado brasileiro que deveriam, para serem efetivadas, passarem pelo voto popular.
Se a população brasileira aceitar um programa de governo que transforme a CLT em confete, implante uma idade mínima de 65 a 70 anos para a Previdência Social e bloqueie novos investimentos nas áreas de educação e saúde, amém, que assim, seja.
Mas o que o PMDB, agora mandando formalmente no governo federal, vai começar a fazer é algo muito além de estelionatos eleitorais praticados por FHC, Lula e Dilma. O que ele propõe é uma mudança profunda na natureza do Estado brasileiro e o quanto dele será destinado a atender a população que mais dele precisa.
As medidas podem alegrar grupos econômicos, seus representantes, porta-vozes e patos amarelos, mas certamente não o povão - que não foi para a rua nem a favor, nem contra o impeachment, segundo pesquisas realizadas pelo instituto Datafolha, e segue bestializado assistindo a tudo pela TV.
A verdade é que apenas um governo que não foi escolhido após um debate eleitoral profundo e que não teve coragem de defender esses pontos publicamente seria capaz de produzir o impensável.
O Brasil é resistência. Não aquela cantada em prosas e versos, da resistência dos ricos e poderosos, que com seus grandes nomes deixaram grandes feitos que podem ser lidos em grandes livros ou vistos na TV. Mas a resistência solitária e silenciosa de milhões de anônimos que não possuem cidadania plena, mas tocam a vida mesmo assim.
Essa resistência será posta à prova a partir de agora.
Que tipo de país vocês querem?
E o quanto estão dispostos a lutar por ele?
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