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Pensamentos aleatórios

12 de março de 2013

Uma paixão catalana?



"Paixão (do verbo latino, patior, que significa sofrer ou suportar uma situação difícil) é uma emoção de ampliação quase patológica. O acometido de paixão perde sua individualidade em função do fascínio que o outro exerce sobre ele. É tipicamente um sentimento doloroso e patológico, porque, via de regra, o indivíduo perde parcialmente a sua individualidade, a sua identidade e o seu poder de raciocínio."

Essa é a descrição do dicionário sobre o que é paixão. Em Catalão é comum ouvirmos por aí que o CRAC é a paixão coletiva dos catalanos, aquela pela qual todos nós perdemos nossa individualidade, nos tornando um só corpo torcendo pelo time e pelo qual faríamos qualquer sacrifício (exceto atirar sinalizadores na torcida adversária). Isso ao menos o que acredita parte do poder político local, que vê no time de futebol o "circo" que os catalanos precisam para se alienar e deixar de enxergar as mazelas da cidade. E em grande parte eles tem razão, pois esse expediente vem sendo usado há anos (não só nos últimos 12, diga-se). 

Quando o time está bem nenhuma atitude do prefeito ou dos vereadores é questionada pela sociedade. Tudo fica azul (literalmente, na atual gestão) e viver aqui é bom demais; já quando o time vai mal as pessoas começam a enxergar os buracos no asfalto, as filas no Pronto-Socorro, a propaganda enganosa, a incompetência administrativa dos gestores e a falta de compromisso dos edis... daí a importância de injetar um milhão e cento e vinte cinco mil reais de dinheiro público no lombo de um bando de boleiros, é garantia de sossego, se der certo, é claro.

E quando o time vai mal surge outra característica dessa paixão: ela não tem dono, é do povo. E por isso não se admite a crítica, pois se existe dinheiro público no CRAC foi o povo quem quis, o prefeito e os vereadores nada mais fizeram do que se render a vontade popular, por isso não tem nada a ver responsabilizar o poder público pela campanha ruim do time e atirar cajá-manga no prefeito, tem que xingar os jogadores, o técnico e a diretoria, o prefeito não, já que ele não está dentro das quatro linhas e nem futebol ele sabe jogar, ora. O interessante é que raramente quem está ocupando o cargo procura saber a opinião dos cidadãos sobre investir ou não o dinheiro público no CRAC (orçamento participativo? me livre), mas quando o time vai mal a culpa é do povão. Por esse raciocínio também é culpa do povão a água suja que está saindo das torneiras, os buracos no asfalto que não são tapados e o matagal que não é podado, já que foi o povo quem escolheu a atual gestão, mas isso poucos falam. 

"Investir" no CRAC é, antes de mais nada, propaganda. E, como a cartilha marconista reza muito bem, propaganda é a alma do negócio, assim como em Catalão futebol é o circo do povo, mas uma lição que Jardel e sua equipe estão aprendendo é que o povo gosta sim de circo, mas apenas quando ele não está pegando fogo, pois quando a lona esquenta o povão abre os olhos.

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