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Pensamentos aleatórios

14 de abril de 2013

Ser servidor público é legal, mas o bom é ser comissionado



Esse post é para os concurseiros de plantão. 

Eu mesmo já fui um concurseiro. Investia tempo e dinheiro, comprava apostilas, estudava os conteúdos programáticos, lia os editais das seleções anteriores, pesquisava as provas já aplicadas, "seguia" a empresa organizadora, enfim, fazia tudo aquilo que manda o manual do bom concurseiro: "Foco e estudo, até passar!". É verdade que quando a gente se dedica a disputar um determinado cargo, ou a fazer a prova de determinada instituição organizadora, melhora-se com o tempo e assim foi comigo. As provas da Fundação Carlos Chagas (FCC), organizadora das seleções para os Tribunais Regionais Federais (TRF), eu estava quase fechando. Nunca ficava com menos de 80% de acerto das questões, um bom índice, mas sempre insuficiente para ser aprovado na vaga de Analista Judiciário (o tal "Foco"). 

Fiz cerca de seis seleções e sequer ficava classificado. E entre uma prova e outra aproveitava para fazer outros concursos, quando as provas eram aplicadas aqui ou próximas à Catalão. Então eis que surge o concurso para Técnico Administrativo na UFG e, como estava sempre estudando, mais uma vez completei os 80% da prova e fui aprovado em 1º lugar (urrú!!).

Mas, como manda o manual do bom concurseiro, esta aprovação serviria apenas para dar um suporte financeiro para atingir o real objetivo: o cargo de Analista Judiciário. E assim me comportei durante três anos, continuei "seguindo" os editais e estudando. O tempo passou, me integrei ao cargo na UFG, iniciei uma atuação sindical no serviço público, fiz novas amizades no local de trabalho, reforcei antigos laços construídos durante a graduação e descobri que ser servidor público tem vantagens, mas também muitos desgastes, me dei por satisfeito ao atingir uma dos principais objetos do concurseiro (estabilidade) e decidi aposentar a apostila.

Após aposentar a apostila só confirmei aquilo que eu já vinha aprendendo com a atuação no sindicato: vida de servidor público não é fácil. É uma luta constante por valorização, melhoria das condições de trabalho, reajuste salarial e aprimoramento da carreira. E a ferramenta de luta é a greve, que sempre leva ao desgaste com a população e a perda de apoio quando esta se prolonga. Às vezes ganha-se algo substancial para a carreira, às vezes ganha-se muito pouco e na maioria das vezes não se ganha nada, mas é a única ferramenta de que dispõe o servidor para fazer suas reivindicações chegarem ao Chefe do Executivo e infelizmente tem que ser usada, até o dia em que for proibida de vez, como várias propostas que estão tramitando por aí.

Pois bem, resolvi escrever este post por duas notícias que vi esta semana. A primeira é a farra salarial e imoral que ocorre na Assembleia Legislativa do Estado de Goiás, onde servidores comissionados recebem salário de até 44 mil reais (notícia aqui). Comissionado, todo mundo sabe, é aquele servidor que ocupa o cargo sem se submeter a concurso público, ou seja, é alguém nomeado que recebe um salário, na maioria das vezes superior ao dos servidores efetivos, e cuja competência para ocupar o referido posto foi avaliada apenas pelo critério da amizade. A repercussão foi tão negativa que o atual presidente, Helder Valin, se viu obrigado a tomar uma atitude e abaixar esses salários. O assunto morreria aí, se a imprensa (e o próprio Helder Valin) não mostrassem que os mega salários já eram pagos há pelo menos dois anos, ou seja, de forma completamente imoral e sem transparência, pois até o atual presidente se disse surpreso com o fato. A outra notícia é a aposentadoria da Governadora do Maranhão, Roseana Sarney, como SERVIDORA EFETIVA DO SENADO, cargo que ela ocupou de 1982 a 1985, se licenciando posteriormente para acompanhar o pai na Presidência da República (notícia aqui). O detalhe é que Roseana não fez concurso para entrar no Senado, ocupou um cargo apenas por três anos e agora se aposenta na função, com a bagatela de 21 mil reais de aposentadoria. Até o ano passado o servidor público federal precisava ter 35 anos de contribuição e 60 anos para se aposentar, recebendo uma média do salário dos últimos dez anos. Poderia também se aposentar com idade menor, mas aí não receberia o salário integral. Hoje quem entrar no serviço público terá que complementar sua aposentadoria, pois o Governo não vai pagar acima do teto da Previdência (cerca de R$ 3.900,00). Já Roseana, com 35 anos de licença (remunerada?) se aposenta com salário integral e ainda vai poder acumular vencimentos como Governadora do Maranhão aposentada e como Senadora aposentada, totalizando mais ou menos 70 mil reais mensais. Essa sim soube fichar!

E o que tem a ver as duas últimas notícias com os concurseiros de plantão? Bom, se a Roseana Sarney pôde se aposentar após ocupar por apenas três anos um cargo, sem concurso público, e os mega salários da Assembleia Legislativa eram pagos a servidores comissionados há pelo menos dois anos como é que o concurseiro, que se esforça, estuda e luta para ser aprovado numa seleção ainda pode se manter motivado a continuar? As duas notícias são uma triste realidade nacional, onde fala mais alto o QI (Quem Indica) do que o mérito. A grande verdade é que os servidores efetivos carregam o piano, mas quem toca, sabendo ou não, são os escolhidos pela amizade, sem ter que se submeter a nenhuma seleção anterior. Até mesmo os grandes cargos para os quais (raramente) ocorrem concurso, aqueles dos altos salários (acima dos 19 mil reais), nunca ninguém conhece algum aprovado, ou quando conhece a pessoa já teve alguma ligação com determinado político ou partido.

Isso tudo é só para dizer aos concurseiros para que mudem seu foco, pois é melhor ser servidor público comissionado do que efetivo. Ao invés de estudar para concurso, canalizem seus esforços para se tornar um bajulador profissional de político. A história recente prova que a pessoa que se destaca nessa função ganha uma vaga na carreira de servidor comissionado ad eternum e, como no caso da Roseana, poderá até se aposentar depois de um tempo, com o salário maior do que o de um servidor de carreira, e sem necessidade de submeter-se a nenhuma prova ou seleção, tudo dentro da lei, diga-se, pois pode até ser imoral, mas é legal. 


Repetindo a charge da Roseana, porque essa merece ser repetida


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