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Pensamentos aleatórios

16 de janeiro de 2013

A morte no presídio



A morte de uma jovem de 28 anos, grávida de dois meses, mãe de outras duas crianças, dentro de uma instalação prisional, sob proteção do Estado, em uma dia de visita e em circunstâncias suspeitas é um fato triste. A revolta da família é natural, assim como a dos encarcerados, que temem pela vida daqueles que vão visitá-los. O mínimo que se poderia esperar de um sistema prisional é a manutenção da integridade física, seja dos presos ou daqueles que os visitam, mas se nem o mínimo é possível fazer o que dizer da reinserção na sociedade? Fato lamentável, mas resultado de longos anos de descaso nacional com a questão, que Catalão vivencia nesta semana.

Duas coisas são certas hoje: prisão não corrige ninguém. Não reeduca, não recupera, não ressocializa e não muda as pessoas. E quem fica preso de verdade não é aquele atrás das grades, mas sim a família. E o caso da jovem Bianca prova isso. Ela mesma já cumpriu pena por tráfico de drogas, foi processada, presa e quando saiu, ao invés de se ver livre, manteve-se na prisão, pois foi lá que conheceu seu esposo. Se o sistema prisional funcionasse, Bianca sairia com a certeza de que o crime não compensa, manteria o relacionamento com o esposo presidiário e tocaria sua vida normalmente, mas eis que nas visitas intimas é pega com uma porção de droga. No desespero para não ser flagrada, engole o pacote e morre sufocada, versão oficial dos fatos. A família suspeita, pois o corpo da moça está cheio de hematomas e aparentes sinais de violência. Trágico, mas infelizmente comum pelo Brasil afora.

O que nossa cidade está vivenciando agora é o que várias outras de médio e grande porte que tem presídios já se acostumaram: a existência de um universo com leis próprias dentro das cadeias. E o comércio de drogas é apenas um desses aspectos. Bianca é uma vítima desse perverso comércio, pois as pessoas que entram nele não conseguem mais sair, principalmente pela pressão dos traficantes, financeira ou psicológica (ameaças à família fora da cadeia ou mesmo ao ente dentro das grades é comum). Além das drogas existe mercado para visitas intimas (compradas ou permitidas), alimentação, proteção, repouso e comunicação com o exterior (celulares com internet, inclusive). Por isso para cada preso atrás das grades existem duas ou três outras pessoas fora das cadeias presas à sua situação. Gente que vive sob constante tensão e sem ajuda da sociedade, que criou os presídios justamente para segregar e deixar que os presos tenham suas próprias organizações, daí a designação "marginal" para aqueles que estão presos, pois estão à margem da sociedade. 

O sistema prisional é perverso e injusto e os poucos casos de sucesso em recuperação de detentos estão ligados mais a atuação de igrejas e outras organizações sociais do que a ação do Estado, mas isso não pode servir de desculpa para não se apurar minuciosamente o acontecido. Uma pessoa morreu dentro de uma instalação de segurança pública e é preciso saber o porque, principalmente para que a sociedade catalana conheça o mundo que existe dentro do presídio municipal, pois só com a participação da sociedade é que será possível evitar que outras tragédias ocorram e que a morte de Bianca não se torne apenas mais uma fatalidade estatística.



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